sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Primeira noite fica marcada pela emoção no palco do Martin Fierro

Por Cleizer Maciel

Assessoria de Imprensa


Público respondeu ao chamado e lotou o ginásio Guanabara na primeira das quatro noites de realização do festival em Sant’Ana do Livramento

Passava das 22h30 quando o poeta Anomar Danúbio Vieira subiu ao palco da décima primeira edição do Festival de Fronteira Um Canto Para Martin Fierro, para proceder, como faz já há vários anos, a abertura oficial do evento. Acompanhado do violonista Negrinho Martins, Anomar, poeta santanense reconhecido e premiado nos mais importantes festivais de música nativista do Estado, ele emocionou o público ao recitar versos profundamente identificados com o evento. Na sequencia, já com a presença da dupla oficial de apresentadores, Shana Muller e Manolo Oribe, teve início mais uma edição do evento. Como de costume, Manolo eShana destacaram a importância do Festival para o engrandecimento e manutenção da cultura musical do Rio Grande do Sul.

Hino original

Ricardo Martins, instrumentista vencedor dos maiores e mais importantes festivais de música nativista do Estado e atual detentor do título de campeão da Califórnia da Canção da cidade de Uruguaiana, emocionou o público ao executar o hino nacional brasileiro com seu estilo inconfundível. Ansioso, o público sentiu os primeiros acordes com a apresentação especial da música Regalo, interpretada por Mateus Ribeiro, vencedor da Penca da Música Nativista, festival que acontece no C.T.G. Presilha do Pago, em Livramento. Logo a seguir Foi a vez de Luis Cardoso, santanense que há anos está entre os melhores violonistas do Sul do Brasil, subir ao palco do Martin Fierro e tocar no show de aberta oficial desta edição do Festival. A apresentação, aquecida pelos aplausos calorosos do público, deixou clara boa forma do músico que é capaz de emocionar os santanenses através do perfume dos acordes que emanam do seu violão.

Concorrentes

Com a apresentação das oito primeiras concorrentes deste ano, o público, já ansioso, viu subir ao palco a primeira composição por volta da meia-noite. Arranjos, interpretações, poesia e melodia de altíssimo nível marcaram a primeira noite do Martin Fierro. Das oito composições apresentadas, a prova clara do equilíbrio que deverá marcar esta edição do evento. Pela alta qualidade dos trabalhos que foram apresentados na primeira noite do evento, ficou a certeza de que o ano de 2009 deverá ficar marcado como o detentor de uma das maiores e mais importantes edições do Festival de Fronteira Um Canto Para Martin Fierro. O destaque da noite ficou para a apresentação das composições Florão de Chinoca, com letra de Rafael Chiapetta e música de Leonel Gomes. A defesa da música empolgou o público que identificou-se rapidamente com a voz macia e reconhecida de Leonel Gomes e Marcelo Oliveira. Caçador de Campanha, composição que tem letra de Leonardo Borges e Fábio Maciel, e música de Juliano Moreno, fez vibrar a plateia nas arquibancadas do ginásio de José Luiz Sanz do Esporte Clube Guanabara. O tema, que contou, de forma irreverente, os hábitos dos caçadores que fazem desta prática uma forma de aproximar amigos e manter acesa uma das mais antigas tradições do gaúcho. Ao lado do grupo Os Mogango Maleva, Juliano Moreno desceu do palco empolgado com a apresentação e confiante na decisão dos jurados.

Um show a parte

Já era madrugada desta sexta-feira quando Nelson Cardoso, ovacionado pelo público, subiu ao palco para incendiar a primeira noite do evento. O homem, a lenda da música de Livramento, aguardado por uma verdadeira multidão, subiu ao palco e incendiou o ginásio com sua energia e carisma. Nelson Cardoso, o gaiteiro dos canudos, homenageado deste ano, fez um show que deverá ficar guardado para sempre na memória do povo santanense. No meio da plateia, pessoas com lágrimas nos olhos viram ali a presença daquele que é um dos maiores representantes da verdadeira cultura e música do Rio Grande do Sul. Também emocionado, Nelson Cardoso fez questão de agradecer ao carinho recebido através da homenagem feita pela comissão organizadora do evento.

PROGRAMAÇÃO

Dia 18/12/09 – Sexta-feira

• Show de abertura - Jarí Terres;

• Oito Concorrentes;

• Show de Encerramento - Buenas e M'espalho.

Dia 19/12/09 – Sábado / Tributo a Mercedes Sosa

• Shows - Luis Carlos Borges;

• Show Internacional - Yamila Cafrune;

• Show César Oliveira e Rogério Melo.

Dia 20/12/09 - Domingo

• Apresentação Especial;

• 12 Finalistas;

• Show de Encerramento - Joca Martins.


Saiba Mais

O quê ? 11ª edição do Festival de Fronteira Um Canto Para Martin Fierro

Quando? dias 17, 18, 19 e 20 de dezembro de 2009

Onde ? Ginásio José Luiz Sanz do Esporte Clube Guanabara (Sant’Ana do Livramento)

Shows ? Jari Terres, Buenas e M’espalho, Luis Carlos Borges, Yamila Cafrune, Cesar Oliveira e Rogério Melo, além de Joca Martins e um show surpresa preparado pela comissão organizadora.

Homenagens? Neste ano são homenageados Nelson Cardoso (50 anos de carreira), e Mercedes Sosa (cantora argentina falecida em outubro)

Ingressos: Arquibancadas R$ 4,00 (quatro reais) na sexta-feira e R$ 5,00 (cinco reais) no sábado e domingo

Cadeiras: R$ 8,00 (oito reais) na sexta-feira e R$ 10,00 (dez reais) no sábado e no domingo

Transmissão: Ao vivo pela RCC FM 95,3 e no site no endereço: www.rccfm.com.br

CDL/SPC amplia horário de atendimento ao comércio local

Por Edis Elgarte

Assessoria de Imprensa CDL



A ampliação do horário de atendimento ao consumidor da fronteira pelas principais lojas de varejo de Livramento, nos dias que antecedem o Natal, ganhará a partir da próxima segunda-feira, dia 21, o apoio do Serviço de Proteção ao Crédito-SPC da Câmara de Dirigentes Lojistas-CDL. O serviço, que presta uma assessoria importante para os estabelecimentos comerciais e para os próprios consumidores, também vai estender seu horário de funcionamento entre a segunda-feira e a véspera do Natal, mantendo um plantão ininterrupto das 8 horas até às 20 horas, diariamente.
Visando oferecer maior tranqüilidade e conforto para a população considerando o significativo incremento no movimento de pessoas neste período, a maioria das lojas estende algumas horas em seu expediente normal. Como muitos consumidores fazem a opção pela compra a crédito e esse tipo de venda depende geralmente de consulta ao banco de dados do SPC, muitas vezes as compras não são possíveis porque o serviço encerra seu expediente às 19 horas. Com a ampliação do horário a partir de segunda, os consumidores terão mais tranqüilidade para suas compras e o comércio maior segurança nos negócios.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um Canto para Martin Fierro com homenagens e ingressos populares



Um evento que transcende fronteiras e alcança um número cada vez maior de pessoas nos quatro cantos do Estado, em boa parte do Sul do Brasil, Uruguai e Argentina. Assim é o Festival de Fronteira Um Canto Para Martin Fierro que chega neste ano à sua 11ª edição em Sant’Ana do Livramento. Nos dias 17, 18, 19 e 20 de dezembro, com início previsto para as 21h, a comunidade fronteiriça terá novamente a oportunidade de ver em cima do palco que será montado no interior do ginásio José Luiz Sanz, do Esporte Clube Guanabara, um desfile de astros e estrelas da música gaúcha, responsáveis pela produção e manutenção do cancioneiro do Estado e que também levam para outros estados da federação e outros países, um pouco da cultura do povo do Rio Grande do Sul. Serão nomes como Joca Martins, Luis Carlos Borges, Cesar Oliveira e Rogério Melo, entre tantos outros, que poderão ser vistos bem de perto pelo público que ocupará espaços nas arquibancadas.

Uma noite a mais

A grande novidade desta edição do festival fica mesmo por conta do acréscimo de uma noite. Nas dez edições anteriores, o festival foi sempre realizado em três noite, iniciando na sexta e culminando no domingo, noite reservada para a grande final. Em 2009, o festival inicia na quinta-feira sendo a noite do sábado reservada para um tributo especial em homenagem a cantora argentina Mercedes Sosa. A Ideia, aprovada por músicos, comissão organizadora e público em geral, tem o apoio oficial do governo brasileiro e deverá ser prestigiada por representantes dos governos do Uruguai e Argentina, já que Mercedes Sosa ou, La Negra, como ficou conhecida mundialmente, através do seu canto fazia ecoar sua mensagem não apenas para sua terra natal mas para todos os países da América Latina.

Hors-concours

A palavra significa um adjetivo e substantivo masculino de dois números relativo a ou pessoa que não pode participar de um concurso por já ter sido laureada, por ser membro do júri ou por ser tida como muito superior aos demais competidores. Ou seja, já eleita entre os melhores em sua área de atuação. A tradução desta palavra, nesta edição de Um Canto Para Martin Fierro,pode também ser entendida como Nelson Cardoso. O gaiteiro e cantor, diversas vezes premiado com a música mais popular do evento, é também o responsável por algumas das maiores emoções que o público já sentiu em dez anos de festival. Ao subir no palco, o delírio da plateia dava a Nelson a certeza da consolidação de uma carreira e aceitação do trabalho por parte de todos os santanenses. Com base nisso, a comissão organizadora do festival resolveu neste ano, prestar uma homenagem ao cantor. Na quinta-feira, 17 de dezembro, acontecerá a chamada Noite de Livramento, quando subirão ao palco Luis Cardoso, no show de abertura, as oito primeiras músicas concorrentes, e Nelson Cardoso será o responsável pelo show de encerramento. Na oportunidade, o cantor será homenageado oficialmente pelos organizadores. Neste ano, Nelson não participa das etapas competitivas do Martin Fierro.

Festival popular

A exemplo dos anos anteriores, uma das principais características do evento está mantida. O preço dos ingressos continua dentro da faixa considerada popular. Segundo o presidente do evento, Carlinhos Fernandes, esta é uma forma de permitir que o público que tanto gosta deste tipo de evento participa de forma fiel há onze anos, possa novamente ter acesso a grandes shows com um ingresso barato. Para o presidente do Centro de Cultura Um Canto Para Martin Fierro, a manutenção de ingressos com preços considerados populares é a garantia de que a participação do público é fundamental para o sucesso do festival de todos os santanenses. Os valores dos ingressos serão os seguintes: arquibancadas – dias 17 e 18 de dezembro custarão R$ 4,00 (quatro reais), nos dias 19 e 20 passarão a custar R$ 5,00 (cinco reais). Já as cadeiras, nos dias 17 e 18 de dezembro custarão R$ 8,00 (oito reais) e nos dias 19 e 20 passarão a custar R$ 10,00 (dez reais). Segundo Carlinhos Fernandes, a partir do dia 10 de dezembro, iniciam as vendas dos pacotes para as quatro noites. Os interessados poderão adquirir os mesmos com 10% de desconto. Os ingresso poderão ser adquiridos já no dia 10 na rua Rivadávia Corrêa 663, e na Durma Bem, na Manduca Rodrigues entre Rivadávia Corrêa e Andradas.

Programação

Dia 17/12/09 – Quinta-feira

• Show de abertura - Luis Cardoso;

• Oito Concorrentes;

• Show de Encerramento - Nelson Cardoso;

• Noite de Livramento

Homenagem aos 50 anos de carreira do cantor e gaiteiro Nelson Cardoso.

Dia 18/12/09 – Sexta-feira

• Show de abertura - Jarí Terres;

• Oito Concorrentes;

• Show de Encerramento - Buenas e M'espalho.

Dia 19/12/09 – Sábado / Tributo a Mercedes Sosa

• Shows - Luis Carlos Borges;

• Show Internacional - Yamila Cafrune;

• Show César Oliveira e Rogério Melo.

Dia 20/12/09 - Domingo

• Apresentação Especial;

• 12 Finalistas;

• Show de Encerramento - Joca Martins.


Saiba Mais

O quê ? 11ª edição do Festival de Fronteira Um Canto Para Martin Fierro

Quando? dias 17, 18, 19 e 20 de dezembro de 2009

Onde ? Ginásio José Luiz Sanz do Esporte Clube Guanabara (Sant’Ana do Livramento)

Shows ? Nelson Cardoso, Luis Cardoso, Jari Terres, Buenas e M’espalho, Luis Carlos Borges, Yamila Cafrune, Cesar Oliveira e Rogério Melo, além de Joca Martins e um show surpresa preparado pela comissão organizadora.

Homenagens? Serão homenageados Nelson Cardoso (50 anos de carreira), e Mercedes Sosa (cantora argentina falecida em outubro)

MAGISTÉRIO INICIA GREVE NESTA TERÇA FEIRA

Por JUca Sanmpaio

No dia 15/12, terça-feira, começa a greve dos Trabalhadores em Educação gaúchos. Esta foi uma greve anunciada e que chegou a sua decretação pela intransigência do Governo Yeda. É um movimento paredista contra a desestruturação dos Planos de Carreira proposto pelo Governo Estadual, que através da Proposta de Emenda à Constituição do Estado Nº 200/09, que revoga a os parágrafos 3º do artigo 31, que assegura a existência de promoções alternadas, por critérios objetivos e alternados de antiguidade e merecimento, nas carreiras. Também revoga os parágrafos 3º e 4º, que asseguram concessão de gratificações e adicionais por tempo de serviço, por critérios uniformes e concede as Licenças Prêmio, de três meses remuneradas, concedidas a cada cinco anos, respectivamente. Estas medidas atingem todos os servidores públicos.
Já o Projeto de Lei nº 335/09, vem na consequência, porque modifica dispositivos do Estatuto do Regime Jurídico Único, Lei Complementar nº 10098/94, atingindo todas as categorias de servidores. Pois, institui a meritocracia como forma de promoção e extingue os triênios e avanços, conforme prescrevem os artigos 99 e 115 da Lei Complementar 10098/94. Diz, ainda, o parágrafo único que o servidor poderá migrar, mas nessa hipótese o servidor ficará premido pelos prejuízos conhecidos, que marca as situações de uma carreira em extinção.
O Projeto de Lei 333/09, cria uma remuneração mínima para o magistério, de R$ 1500,00, para vículos de 40h semanais, e de R$ 750,00, para vínculos de 20h semanais, aplicando-se a servidores ativos ou inativos. Este Projeto não possui mecanismo de reajuste periódico. Assim, se um servidor receber menos desses valores ele receberá um completivo. Toda a vez que o valor do básico de um servidor receber um reajuste, diminuirá o completivo, ficando assim, com seu salário congelado. Este projeto não envolve os funcionários de escola.
Outro projeto polêmico é o de nº 334/09, que cria um mecanismo através do qual, em cada ano, o Estado vai apurar se ocorreu um superávit no orçamento do ano anterior, para conceder em março reajuste ao magistério e aos servdores de escola. Desta forma, este reajuste fica condicionado ao fato de o Estado não ter déficit, pois compara receitas e despesas dos dois últimos anos para encontrar o montante, que menciona ser resultado positivo, que será transformado em índice e do resultado positivo, será utilizado apenas 15%, que através do dito índice será repassados aos vencimentos.
Estes projetos não valorizam os servidores, mas retiram conquistas e se assentam em parâmetros de governo, que são metas de gestão, submentendo-se, inclusive, aos crivos ideológicos e temporários dos partidos do poder. Por outro lado, convem ressaltar que tais modificações obedecem aos dítames do Banco Mundial, quando da assinatura do empréstimo feito pelo governo do Estado. Na verdade, o Governo quer transformar a Escola que conhecemos numa Escola-Empresa, cujos objetivos não são os mesmos, por se tratar de atividades díspares. A primeira trata da construção do conhedimento, que depende de rítimos de aprendizagem e necessita de condições para ocorrer a aprendizagem. O Governo atual não investe os 35% em educação e sim apenas 18%, além de faltarem professores e espaços pedagógicos funcionando adequadamente. Já a segunda tem como objetivo o lucro, tão somente. Portanto, os parâmetros do Governo são de mercado e isto é incompatível com os parâmetros da educação.
O Governo não debateu com a categoria sobre tais projetos, apenas os enviou para a Assembléia Legislativa, em regime de urgência, que em 30 dias os deputados devem apreciar, sem ter o tempo necessário para avaliá-los satisfatóriamente, nem tiveram os servidores públicos tempo para expressarem suas opiniões para aconstrução dos mesmos. Afinal, quem vai ter que trabalhar e levar a bom termo o serviço público são os funcionários e estes não foram nem sequer avisados sobre as condições "novas" sob as quais terão que trabalhar. Isto, se forem aprovadas.
Desta forma e por absoluta intransigência do Governo e para que sejamos ouvidos, é que foi deflagrada a Greve.
Os marcos legais que o Governo Yeda quer mudar atingem diretamente as carreiras, desestruturando-as retirando conquistas históricas. Além de colocar a experiência como algo não importante e descartável, quando quer avaliar por merecimento, cujos critérios não estão definidos. É o mesmo que jogar na lata de lixo, não reciclável, a experiência obtida através da antiguidade no serviço. Este fato demonstra que o Governo tem uma concepção de vida não humana, não fraterna nem muito menos solidária. É importante que se diga que educar não é a mesma coisa que trabalhar numa linha de produção, onde o produto defeituoso ou é descartado, ou é jogado num forno qualquer para ser transformado novamente em matéria prima. Pois, na escola trabalham seres humanos que tem a tarefa de ensinar e construir o conhecimento. Os alunos não são como parafusos, que se mal feitos podem ir para uma sessão qualquer de reciclagem. Os tempos da educação não são os mesmos tempos do mercado, nem a aprendizagem tem os mesmos tempos de uma linha de montagem de uma fábrica. Estabelecer metas em educação é levar em conta todas as condições sociais do ser humano e na avaliação por merecimento, de acordo com metas atigidas, é que se encontram os maiores erros do Governo. Não se pode querer que a aprendizagem de um aluno seja única e exclusiva responsabilidade do educador. Tem, o aluno que ter um tempo fundamental de estudo fora da escola, em sua casa, onde os pais devem acompanhar esse estudo e ele deve ter condições para que exista esse tempo de estudo, por exemplo. É por isso que dizemos que uma Escola não é uma ilha de produção fabril, nem uma linha de montagem de uma indústria.

domingo, 13 de dezembro de 2009

DIAS DE EXILIO E SOLIDARIEDADE NA FRONTEIRA GAUCHA


Todos os finais de semana, um ritual se repete na aprazível região da campanha. Milhares de turistas se dirigem aos free-shops da fronteira de Santana do Livramento e Rivera em busca de bebidas, artigos importados a preços razoáveis e a boa carne uruguaia. O que poucos desconfiam é que essa região guarda mistérios bem mais densos do que os frívolos motivos do consumismo podem sugerir. Nas ruas de Livramento e Rivera, separadas por uma linha imaginária que aparentemente a nada se opõe, travaram-se batalhas em distintas escalas, desde a configuração da fronteira nacional, nas primeiras décadas do século 19. Algumas dessas batalhas políticas são recuperadas pelo jornalista Marlon Aseff, na obra Retratos do Exílio – Solidariedade e Resistência na Fronteira (Edunisc, 265 páginas).

O livro traz à luz os dias de desesperança, de lutas e de solidariedade, vividos por uma geração que teve de deixar o país, logo após o golpe que destituiu o presidente João Goulart do poder, em abril e 1964. No primeiro momento do golpe, as cidades gêmeas de Santana e Rivera desempenharam um papel fundamental na acolhida e passagem de militantes e perseguidos de toda a sorte, que buscavam a capital uruguaia como única possibilidade de refúgio. No território híbrido da fronteira, permeado de nuances que muitas vezes poderiam significar a vida ou a morte, a solidariedade foi a tônica naqueles dias. Através de uma pesquisa que levou cinco anos para ser concluída, em arquivos particulares, bibliotecas brasileiras e uruguaias, e em mais de 40 horas de entrevistas, o autor revela personagens que ainda permaneciam à sombra, em uma abordagem inédita na historiografia brasileira daquele período.

Recuando a lutas sindicais do começo do século, quando o Frigorífico Armour e o capital internacional se instala na cidade, revivendo crimes políticos que se perpetuavam em uma região de conflitos ideológicos latentes, Marlon Aseff chega aos dias decisivos de 1964. Naquele momento, encerrava-se a experiência republicana iniciada com o final do Estado Novo, e um projeto latino-americano de autonomia começava a ruir, como um castelo de cartas, em sucessivos golpes militares.

Na busca por uma conjuntura daqueles anos de exílio vividos na pequena cidade uruguaia, o autor retrata a trajetória de algumas famílias que ali se estabeleceram, como a do deputado trabalhista Beno Orlando Burmann, perseguido pela repressão política e acusado de participar do chamado “esquema de fronteira”, ou seja, dar passagem aos militantes da esquerda que entravam ou saíam do Uruguai e insuflar os movimentos de resistência que se sucederam com mais regularidade a partir de 1966.

Região referendada por dois dos maiores escritores da América Latina, Jorge Luis Borges e José Hernandez, que ali teria escrito o Martin Fierro, a fronteira gaúcha foi porta de passagem para os degredados políticos e palco de exílios durante todo século 20. Vigiada constantemente por serviços secretos brasileiros, uruguaios e norte-americanos, Santana do Livramento seria a cidade brasileira mais próxima da fazenda onde João Goulart mantinha seu quartel-general, em Taquarembó, a 120 quilômetros da linha divisória. A proximidade daqueles atores políticos com o presidente deposto, suas angústias e motivações pessoais, são retratados nas páginas do livro, que tem prefácio do jornalista e professor de literatura da USP, Flávio Aguiar e contracapa do historiador Paulo Pinheiro Machado.

Situado ao mesmo tempo no micro-cosmo das cidades gêmeas e nos desdobramentos políticos que circundavam uma América Latina radicalizada, o autor retrata um momento crucial para os destinos da nação, que ainda vive as conseqüências daquela ruptura política. Pelas mesmas ruas de Santana e Rivera, hoje inundadas de turistas e sacoleiros, passaram figuras como os insurgentes Carlos Lamarca , Joaquim Câmara Ferreira, Edmur Péricles de Camargo, ou o novato advogado e vereador auto-exilado, Tarso Fernando Genro, entre muitos outros que viveram os dias de incerteza do exílio. Como na assertiva do historiador Bernard Lepetit, nestes Retratos do Exílio o território é essencialmente uma memória e seu conteúdo é todo constituído de algumas formas passadas, que só subsistirão quando compreendidos pelas novas gerações. Nesse sentido, a obra de Marlon Aseff representa um passo à frente nesta direção.






Livro: Retratos do Exílio – solidariedade e resistência na fronteira


Autor: Marlon Gonsales Aseff


Editora da Universidade de Santa Cruz do Sul


Lançamento: Espaço Cultural Antel


Agraciada 333 - Rivera


Dia 21 de Dezembro, segunda-feira, às 20h

domingo, 6 de dezembro de 2009

O JORNAL QUE OUSOU CONTAR A VERDADE

Por Luiz Cláudio Cunha

A maior fraude com dinheiro público da história do Rio Grande do Sul carrega nos ombros o sobrenome ilustre de Germano Rigotto. O irmão do ex-governador gaúcho, Lindomar, brilha como o principal implicado entre as 22 pessoas e 11 empresas denunciadas pelo Ministério Público e arroladas na CPI da Assembléia gaúcha que investigou há 14 anos uma milionária falcatrua na construção de 11 subestações da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Foi uma tungada, em valores corrigidos, de aproximadamente 800 milhões de reais - quase 15 vezes o valor do mensalão do governo Lula, três vezes o valor dos desvios atribuídos ao clã Maluf em São Paulo, cerca de 20 vezes o valor apurado no escândalo do Detran que expôs a governadora gaúcha Yeda Crusius a um pedido de impeachment.

Esta história foi contada em detalhes, em 2001, por um pequeno jornal de Porto Alegre, com tiragem de apenas cinco mil exemplares numa capital com quase 1,5 milhão de habitantes - e está recontada, a partir desta semana, numa edição extra do JÁ que chega às bancas e no seu site.

O JÁ é um bravo mensário que sobrevive há 24 anos pela teimosa resistência de seu editor, Elmar Bones da Costa, nascido há 65 anos em Santana do Livramento, cidade gaúcha no limite com o Uruguai, de onde ele trouxe a rebeldia indomável do fronteiriço. Ao longo de 40 anos de carreira, Bones construiu com talento uma sólida e reconhecida biografia na imprensa nacional que passa pelas redações de Veja, Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, O Estado de S.Paulo, IstoÉ e Folha da Manhã.

Seu troféu mais lustroso, porém, é o CooJornal, um mensário editado pela extinta Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (1976-1983) nos duros anos de chumbo da ditadura. Era um jornal de reflexão sobre a imprensa e seus profissionais, que abria espaço para a memória e a história recente do país, contada por intelectuais de peso e cores que não tinham lugar na imprensa tradicional. Em 1980, ainda em plena ditadura, Bones publicou um documento sigiloso do Exército em que os generais faziam uma dura autocrítica à atuação de suas tropas na repressão às guerrilhas do Vale da Ribeira e do Araguaia. Os militares não gostaram e ele, junto com três colegas do CooJornal, foi condenado a 18 meses de prisão. Gramou 15 dias de cadeia e foi libertado com sursis.

Duas mortes

A mesma intolerância dos generais da ditadura recrudesceu, depois, com os Rigotto da democracia. A família sentiu-se ultrajada pela primeira página da edição 287 de maio de 2001 do JÁ, que anunciava: "O Caso Rigotto - Um golpe de US$ 65 milhões e duas mortes não esclarecidas". Três meses depois, a matriarca da família, Julieta Vargas Rigotto, mãe de Lindomar e de Germano, entrou na Justiça com duas ações. Uma pelo Código Penal contra o jornalista que assina a reportagem, Elmar Bones, acusado de calúnia e difamação.
Outra pela Lei de Imprensa contra a editora do JÁ, pedindo indenização por dano moral.

Nos dois anos seguintes, Bones ganhou todas as ações contra ele, em todas as instâncias, e o processo foi arquivado. Mas, em dezembro de 2003, a Vara Cível do Tribunal de Justiça condenou o JÁ ao pagamento de uma indenização que hoje alcança 54 mil reais, penhorando seus bens para cumprir a decisão.
Desde agosto de 2009 um perito da Justiça vasculha mensalmente as conta do jornal para bloquear 20% de sua receita bruta. Assim, estranhamente, uma mesma reportagem gerou na Justiça duas sentenças díspares, contraditórias: uma absolvendo por unanimidade, outra condenando.

O pequeno mensário, que já teve 22 jornalistas e uma dezena de estagiários e colaboradores na Redação de uma ampla casa alugada no bairro do Bonfim, hoje está reduzido a Bones e sua companheira, Patrícia Marini, também jornalista, uma estagiária, uma secretária, dois computadores, um telefone e uma dezena de contas atrasadas, acuados em duas salas pequenas do antigo prédio na avenida Borges de Medeiros, no centro da cidade, onde funciona a
Associação Riograndense de Imprensa (ARI), que até hoje não se manifestou sobre o caso Rigotto vs. JÁ. Assim, a ação de 54 mil reais de uma veneranda mãe que se diz injuriada está asfixiando, aos poucos, um destemido jornal nanico que ousou contar a verdade sobre uma quadrilha, identificada pela CPI e pelo Ministério Público, que roubou 800 milhões de reais do povo gaúcho. Dona Julieta Rigotto, aos 88 anos de vida, está matando um jornal alternativo que ainda não atingiu seus tenros 25 anos de existência. E tudo disso com o aval da Justiça.

A pequena editora de Bones, além das 396 edições do JÁ, publica uma revista mensal e quatro guias de bairro e ostenta 35 títulos de livros publicados.
Ganhou oito prêmios ARI, o mais importante do Rio Grande do Sul, e em 2004, superando os grandes jornais e revistas do centro do país, faturou a categoria principal do maior prêmio do jornalismo brasileiro, o Esso, com "A tragédia de Felipe Klein" - um texto dramático, arrebatador do repórter Renan Antunes de Oliveira sobre a vida e morte de um jovem e atormentado suicida de Porto Alegre.

A reportagem de quatro páginas de 2001 que tanto incomodou os Rigotto é outra vencedora: conquistou o prêmio daquele ano da hoje silente ARI e o valioso Prêmio Esso Regional, carimbo de sua qualidade e relevância jornalística. A cirúrgica manchete do jornal - "O Caso Rigotto - Um golpe de US$ 65 milhões e duas mortes não esclarecidas" - expressava a mais pura verdade. O golpe era aquele destrinchado na CPI da CEEE.

Alta voltagem

A primeira morte era de uma garota de programa, Andréa Viviane Catarina, 24 anos, conhecida nas boates da capital como "Amanda". No fim da tarde de 29 de setembro de 1998, ela despencou, nua, do 14º andar do Solar Meridien, um prédio na rua Duque de Caxias, no centro de Porto Alegre, a duas quadras do palácio que Germano Rigotto ocuparia cinco anos mais tarde.

O dono do apartamento de onde caiu Andréa era o irmão do futuro governador, Lindomar Rigotto, que estava em casa na hora do incidente. À polícia ele contou que a garota tinha bebido uísque e ingerido cocaína. Os exames de laboratório não encontraram vestígios de álcool ou droga no sangue da jovem.
A autópsia indicou que a vítima apresentava três lesões - duas nas costas, uma no rosto - sem ligação com a queda, indicando que ela estava ferida antes de cair. Três meses depois, Rigotto foi denunciado à Justiça por homicídio culposo e omissão de socorro. No relatório, o delegado Cláudio Barbedo cita o depoimento de uma testemunha descrevendo o réu como "usuário e traficante de cocaína".

A segunda morte, 142 dias depois, era a do próprio Lindomar Rigotto. Então dono da boate Ibiza, na praia de Atlântida, a casa mais badalada do litoral gaúcho, ele fechava o balanço do último baile do Carnaval de 1999, que animou sete mil foliões até o amanhecer daquela Quarta-Feira de Cinzas, 17 de fevereiro. Cinco homens armados irromperam ali, no momento em que Rigotto
e seu gerente contavam a renda. Os ladrões botaram o dinheiro numa sacola e fugiram, cantando pneu. Rigotto saiu em perseguição no seu Gol branco e levou um tiro acima do olho. Morreu a caminho do hospital, aos 47 anos. A bala fatal acabou arquivando o processo pela morte da garota, mas reavivou o mistério em torno da fraude milionária da CEEE.

Afundada em dívidas de quase 1,8 bilhão de dólares, a estatal gaúcha de energia encontrava dificuldades para conseguir os 142 milhões de dólares necessários para as subestações que iriam gerar 500 mil quilowatts para 51 pequenas e médias cidades do Rio Grande. O então governador Pedro Simon, preocupado com a situação pré-falimentar da empresa, tinha ordenado
austeridade total. Até que, em março de 1987, criou-se o cargo de "assistente da diretoria financeira" para acomodar Lindomar Rigotto.
"Era um pleito político da base do PMDB em Caxias do Sul", confessou na CPI o secretário de Minas e Energia da época, Alcides Saldanha. O líder do governo Simon na Assembléia e chefe da base serrana era o deputado caxiense Germano Rigotto.

Treze pessoas ouvidas pela CPI apontaram Lindomar como "o verdadeiro gerente das negociações" com os dois consórcios, agilizando em apenas oito dias a burocracia que se arrastava havia meses. Os contratos nº 1.000 e nº 1.001 foram assinados em dezembro numa solenidade festiva no Palácio Piratini pelo governador e pelo secretário. Logo após a assinatura, pagamentos foram antecipados, contrariando as normas explícitas baixadas por Simon para vigiar de perto as contas da estatal.

Eram documentos de alta voltagem financeira de uma estatal quase falida.
Tanto que a CEEE teve que recorrer três meses depois a um empréstimo de 50 milhões de dólares do Banco do Brasil, dinheiro captado por sua agência no paraíso fiscal de Nassau, nas ilhas Bahamas. Apesar da importância em dinheiro, o presidente da estatal, Osvaldo Baumgarten, e o secretário de Minas e Energia confessaram candidamente na CPI que não leram a papelada que assinaram. "Eu não tinha condições de ler todos os contratos firmados pela CEEE", defendeu-se Alcides Saldanha, mais tarde ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso.

Uma investigação da área técnica da CEEE percebeu que havia problemas na papelada - documentos adulterados, folhas numeradas a lápis, licitação sem laudo técnico provando a necessidade da obra. Em fins de 1989, Rigotto decidiu sair para cuidar da "iniciativa privada", dividindo o controle com o irmão Julius do Ibiza Club, uma rede de quatro casas noturnas no Rio
Grande e Santa Catarina. A sindicância interna na CEEE recomendou a revisão dos contratos, mas nada foi feito.

Conluio e papelão

A recomendação chegou ao governo seguinte, o de Alceu Collares (PDT) e à sucessora de Saldanha na secretaria de Minas e Energia, chamada Dilma Rousseff. Ela ficou eletrificada com o que leu: "Eu nunca tinha visto nada igual", diria Dilma, pouco depois de botar o dedo na tomada e pedir uma nova investigação. Ela não falou mais no assunto porque, em nome da santa governabilidade, o PDT de Collares precisava dos votos do PMDB de Rigotto para aprovar seus pleitos na Assembléia. Mesmo assim, antes de deixar a secretaria, em dezembro de 1994, Dilma Rousseff teve o cuidado de encaminhar o resultado da sindicância para a Contadoria e Auditoria Geral do Estado (CAGE), que passou a rastrear as fagulhas da CEEE com auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Ministério Público.

O tamanho apurado da fraude tinha níveis de tensão diferentes em reais ou dólares, mas dava o mesmo choque: 65 milhões de dólares segundo a CAGE, ou 78,9 milhões de reais de acordo com o Ministério Público.

O deputado Vieira da Cunha, hoje líder da bancada do PDT na Câmara Federal, propôs em 1995 a CPI que jogaria mais luzes sobre a fraude na CEEE. Vinte e cinco auditores quebraram sigilos bancários, fiscais e patrimoniais dos envolvidos. Em 13 depoimentos, Lindomar Rigotto foi apontado como a figura central do esquema, acusação reforçada pelo chefe dele na CEEE, o diretor- financeiro Silvino Marcon. A CPI constatou que os vencedores, gerenciados por Rigotto, apresentaram propostas "em combinação e, talvez, até ao mesmo tempo e pelas mesmas pessoas". Os dois consórcios apresentaram propostas para dois subconjuntos, B1 e B2.

O JÁ de Elmar Bones lembrou:

"Apurados os vencedores, constatou-se que o consórcio Sulino venceu todas as subestações do grupo B2 e nenhuma do B1. Em compensação, o Conesul venceu todas as obras do B1 e nenhum do B2. A diferença entre as propostas dos dois consórcios é de apenas 1,4%".

A CPI foi ainda mais chocante:

"É forçoso concluir pela existência de conluio entre as empresas interessadas que, se organizando através de consórcios, acertaram a divisão das obras entre si, fraudando dessa forma a licitação".

A quebra de sigilo bancário de Rigotto revelou em sua conta um crédito de 1,170 milhão de reais, de fonte não esclarecida. O diretor Silvino Marcon justificou à CPI os 156 mil reais encontrados em sua conta particular como sendo "sobras da campanha de 1986".

O relatório final da CPI caiu nas mãos de outro caxiense, que não poupou ninguém, apesar do parentesco. O petista Pepe Vargas, que foi prefeito de Caxias e hoje é deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores, é primo de Lindomar e Germano Vargas Rigotto. "De tudo o que se apurou, tem-se como comprovada a prática de corrupção passiva e enriquecimento ilícito de Lindomar Vargas Rigotto", escreveu o primo Pepe no relatório final.

Pela primeira vez, entre as 139 CPIs criadas no estado do Rio Grande do Sul desde 1947, eram apontados os corruptos e os corruptores. Além de Lindomar Rigotto e outras 12 pessoas, a Assembléia Legislativa gaúcha aprovou o indiciamento pela CPI de 11 empresas, sem poupar nomes poderosos como os da Alstom, Camargo Corrêa, Brown Boveri, Coemsa, Sultepa e Lorenzetti. As 260 caixas de papelão da CPI foram remetidas no final de 1996 ao Ministério Público, transformando-se no processo n° 011960058232 da 2ª Vara Cível da Fazenda Pública em Porto Alegre. Os autos somam 30 volumes e 80 anexos e envolvem 41 réus - 12 empresas e 29 pessoas físicas. E tudo isso corre em segredo de Justiça.

Coisa de mãe

Essa história incrível, contada sem peias pelo jornal nanico de Elmar Bones, parece também um segredo de imprensa. Nenhum dos grandes veículos de comunicação do Rio Grande do Sul recontou o caso, o mais vultoso entre os 200 processos abertos pelo Ministério Público nos últimos 15 anos. Menos atenção ainda provocaram as duras reações judiciais da família Rigotto, que podem matar o único jornal que se atreveu a jogar luz sobre a milionária treva financeira que se abateu sobre a CEEE.

O ex-governador Germano Rigotto costuma apregoar aos amigos suas boas relações com os dois maiores grupos de mídia do Rio Grande - a Caldas Júnior (jornal Correio do Povo, rádio Guaíba e Rede Record) e a RBS (jornal Zero Hora, rádio Gaúcha e rede RBS, retransmissora da Globo). Isso não impediu, porém, que a brava Julieta Vargas Rigotto processasse a TV-COM, o canal comunitário da RBS, por ter classificado a morte do filho Lindomar na praia como "queima de arquivo". Ela ganhou na Justiça, em 2003, o direito de receber 150 salários mínimos, com juros, pela ofensa que remetia o fim violento do filho à morte da garota e aos curtos-circuitos contábeis da CEEE.

Quando perguntado diretamente sobre o absurdo dessa situação, o ex-governador Germano Rigotto refugia-se na saia materna: "Não tenho nada a ver com isso. É coisa da minha mãe", manda dizer o irmão do réu central da maior fraude da história gaúcha, escapulindo da responsabilidade de um caso de marcantes implicações políticas, não filiais.

Diante da primeira ação de dona Julieta na Justiça, o promotor Ubaldo Alexandre Licks Flores rebateu o pedido de processo, em novembro de 2002:

"[não houve] qualquer intenção de ofensa à honra do falecido Lindomar Rigotto. Por outro lado é indiscutível que os três temas [a CEEE e as duas mortes] estavam e ainda estão impregnados de interesse público".

Duas semanas depois, a juíza Isabel de Borba Luca, da 9ª Vara Criminal de Porto Alegre, deu a sentença que absolvia Bones:

"(...) analisando os três tópicos da reportagem conclui-se pela inexistência de dolo (...) em nenhum momento tem por intenção ofender (...) não se afastou da linha narrativa (...) teve por finalidade o interesse público".

Em agosto do ano seguinte, por unanimidade dos sete votos, os desembargadores do Tribunal de Justiça negaram o recurso da bravíssima dona Julieta. E o caso foi encerrado na área criminal.

Andou e prosperou, porém, na área cível. Em dezembro de 2003, o relatório do desembargador Luiz Ary Vessini de Lima transbordava emoção:

"Não há como afastar a responsabilidade da ré pelas matérias veiculadas, que atingiram negativamente a memória do falecido, o que certamente causou tristeza, angústia e sofrimento à mãe do mesmo (...)".

E assim acabou condenado o JÁ e seu editor, que recorda ao Observatório da Imprensa a falta de simetria do processo atual e da cadeia que levou pela publicação de documentos da repressão antiguerrilha.

Fala Elmar Bones:

"A sentença que nos condenou, agora, é uma piada. O processo de 1980 era um absurdo só explicável num regime ditatorial. Os ditos `documentos sigilosos´ eram relatórios de campo sobre ações do Exército no combate à guerrilha, narrando fatos ocorridos já havia mais de dez anos e que só tinham importância porque, na época em que se deram, a censura não permitiu que fossem noticiados. Essa ação de agora é mais absurdo ainda porque estamos em pleno regime democrático e a Justiça não conseguiu apontar nenhum erro ou inverdade na reportagem sobre o assassinato de Lindomar Rigotto. Nosso objetivo com ela era mostrar que Lindomar, assassinado em circunstâncias duvidosas, era o principal implicado em dois outros crimes não esclarecidos - a morte de uma prostituta e o desfalque na CEEE, o maior já ocorrido no Sul e que está encoberto pelo segredo de Justiça. Há 14 anos foram apontados os corruptores e os corruptos e até agora ninguém foi punido. Só o JÁ está pagando o pato."

Voltar ou morrer

Na terça-feira (24/11) em que se divulga a edição nº 565 deste Observatório completam-se 116 dias de censura sobre o jornal O Estado de S.Paulo, impedido por decisão de um juiz amigo e camarada do senador José Sarney de publicar os dados oficiais da "Operação Boi Barrica", da Polícia Federal, que investigou seu filho, o empresário Fernando Sarney, flagrado em grampos telefônicos e conversas que induzem ao tráfico de influência no setor público. "Não tenho nada a ver com isso. É coisa do meu filho", diz o presidente do Senado Federal.

Na mesma terça-feira completam-se 112 dias que um perito da Justiça devassa, lá dentro da Redação, as contas do jornal JÁ para garantir a indenização de dona Julieta Rigotto, que se diz caluniada pela mera repetição de detalhes escabrosos na gestão do dinheiro público de uma estatal gaúcha, sob responsabilidade de seu finado filho, Lindomar, revelados numa CPI e acolhidos pelo Ministério Público. "Não tenho nada a ver com isso. É coisa da minha mãe", diz o ex-governador Germano Rigotto, virtual candidato do PMDB ao Senado em 2010.

Assim, sujeitos ocultos de ações legais de mães e filhos que ferem a liberdade de expressão e afrontam a verdade, o ex-governador Rigotto e o senador Sarney imaginam furtar-se de suas responsabilidades políticas e éticas. No caso do Estadão, rijo e forte aos 134 anos de vida, não se teme por sua saúde e sobrevivência, já que tem os meios para derrubar, cedo ou tarde, a restrição absurda que se abate sobre ele. Quanto ao JÁ, jornal nanico de Porto Alegre, o caso inspira cuidados e graves temores sobre suas reais chances de sobrevida. O único alento, até agora, é o fato de que o recurso do JÁ ao Supremo Tribunal Federal caiu nas mãos do implacável
ministro Joaquim Barbosa, um juiz que dá esperança e fôlego até aos moribundos desenganados pela ciência e pela lei dos homens.

Elmar Bones revela seu desalento no título do editorial ("Voltaremos. Ou não?") da edição extra do JÁ que desembarca esta semana nas bancas com a foto de um mascarado de terno e gravata e uma manchete acabrunhante na primeira página: "O RIO GRANDE CORRUPTO. Escândalos sucessivos abalam o mito do `Estado mais politizado do Brasil´".

Bones adverte no editorial de tom sombrio:

"Pela primeira vez em quase 25 anos, não podemos garantir aos leitores que o jornal JÁ voltará a circular. (...) Um pequeno jornal condenado por `dano moral´ numa ação movida pela família de um político influente, ex-governador do Estado, num mercado em que as maiores agências de publicidade têm contas do governo. (...) Quanto perdemos no mercado publicitário? (...)
Voltaremos!
Ou não?"

Ninguém sabe ainda responder. Se o JÁ não voltar, não será mais um jornal a morrer, diante do silêncio inexplicável de alguns, da omissão de muitos, da complacência de todos nós. A morte iminente de um jornal como o JÁ - somado ao desalento de um jornalista como Elmar Bones - é um fundo golpe nas convicções de todos que acreditam nos fundamentos da democracia, da justiça, da verdade e de uma imprensa livre. A limpa folha corrida do jornal de Porto Alegre e a digna biografia de resistência de seu editor não merecem ser comparados com o prontuário de alguns dos homens públicos que hoje nos representam, julgam e governam.

Em qualquer país sério do mundo, o clamor da sociedade se levantaria já, agora, imediatamente, em defesa de um pequeno jornal, punido apenas por ser correto, preciso, exemplar e corajoso. A inacreditável saga de resistência de Elmar Bones, que precisa fazer agora na democracia o que antes fazia na ditadura, mostra que perdemos algo intangível, irremediável neste rito de passagem. Perdemos a vergonha na cara.

Precisamos decidir se morreremos juntos com o JÁ. Ou se voltaremos com ele.
Agora. Já.

sábado, 5 de dezembro de 2009

PROFESSORES DA REGIÃO APROVAM INDICATIVO DE GREVE

Na ultima sexta-feira em assembléia geral do 23º Nucleo do Cpers- Centro de Professorese do Rio Grande do Sul- com duzentas e três professores presentes foi aprovado o indicativo de greve da categoria a partir do dia 15 de Dezembro, e uma chamada extra, na Assembléia Regional do 23º Núcleo do CPERS/Sindicato. Também foi aprovado visita às escolas, inserção aos meios de comunicação para dar entrevistas a respeito da situação que vivem os trabalhadores em educação, ações regionais com os demais servidores estaduais, utilização dos espaços democráticos das Câmaras de Vereadores de Quaraí e Rosário do Sul, plenárias com integrantes das comunidades escolares para esclarecimentos a respeito do movimento dos funcionários públicos. Além disto foi deliberado pressão aos Deputados.
A categoria debateu os projetos do Governadoro Yeda, repudiando-os e fortaleceu a idéia de que agora todos devem ter como foco exclusivo a unidade e a defesa das conquistas históricas dos funcionários públicos.Segundo o professor Juca Sampaio, diretor do 23º Nucleo do Cpers/Sindicato, "o Governo Yeda, do alto de sua prepotência quer retirar dos servidores direitos e utiliza o argumento contraditório de que vai gastar mais para pagar menos".

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A BARRAGEM SUPERFATURADA DO GOVERNO YEDA

“A barragem do arroio Jaguari (em Lavras do Sul) custará muito mais do que foi anunciado pelo governo do estado. Isto faz com que seus enormes impactos ambientais, somados ao desperdício de dinheiro público, constituam-se em uma enorme afronta aos contribuintes, ao povo gaúcho, e aos proprietários que serão inundados por seu reservatório. Os custos serão aumentados por conta de problemas de estabilidade da fundação e pelo custo de um canal de adução que transportará a água aos seus usuários finais, irrigantes de arroz na maior parte”.

A avaliação é do engenheiro Antônio Eduardo Lana, em seu blog Notícias do Pampa. Formado em Engenharia Civil pela UFRJ, mestre em Hidrologia Aplicada pela UFRGS e Ph.D na área de planejamento e gestão de recursos hídricos pela Colorado State University (EUA), Lana diz que a inadequação do local em que está sendo implantada a barragem, devido a problemas de fundação era amplamente conhecida no meio técnico gaúcho.

O terreno é formado por rochas fraturadas, intercaladas com bolsões de areia. Por falta de sondagens mais detalhadas, que não foram realizadas para subsidiar a escolha do local e do projeto, constata-se agora o que era esperado: a consolidação desta fundação tem custo orçado em R$ 35 milhões. Isto decorre da necessidade de serem administradas injeções de concreto para consolidar as fraturas existentes nas rochas.Tudo pela incompetência dos promotores da obra, que não usaram das técnicas disponíveis, na urgência de “tocar o projeto de qualquer jeito”.

Como a barragem tem seu preço orçado em R$ 85 milhões, diz ainda o engenheiro, os R$ 35 milhões adicionais representam 41% do orçamento e, pela legislação, não podem ser cobertos por aditivo de preço ao contrato, com aporte de recursos da parte que verdadeiramente a financia: o governo federal. “A legislação limita a 25% os aditivos de preço, algo em torno de R$ 13 milhões. Caberá ao Estado buscar cerca de R$ 22 milhões de recursos próprios para investir na obra, caso o governo federal aceite aportar a parte adicional. Mais do que era previsto originalmente como contrapartida do Estado!”, acrescenta.

O engenheiro relata ainda que o Secretário Extraordinário de Irrigação e Usos Múltiplos da Água, anunciou em reunião recente no Comitê da Bacia do rio Santa Maria, que o canal revestido que deverá ser construído para levar a água da barragem às áreas de irrigação de arroz que serão beneficiadas, terá custo da ordem de R$ 100 milhões. Ou seja, maior que o custo inicialmente orçado da barragem. Ele questiona:

“Cabe perguntar se é lícito que o dinheiro dos contribuintes seja usado para implantação de um canal que vai aduzir água para um pequeno número de irrigantes, privatizando assim recursos públicos. Em um país e em um Estado verdadeiramente sério, este investimento deveria correr por conta dos seus beneficiários diretos. Contudo isto nunca ocorrerá por uma razão muito simples: o que o arroz irrigado gerará de receita não é suficiente nem para pagar os R$ 85 milhões da barragem, menos ainda os R$ 100 milhões do canal, e muito menos ambos os investimentos”.

E resume a conta do desperdício de recursos públicos - até agora

1. Custo originalmente anunciado da barragem do Jaguari: R$ 85 milhões;
2. Custo da consolidação das fundações: R$ 35 milhões;
3. Custo do canal: R$ 100 milhões;
4. Total estimado da obra, até agora: R$ 220 milhões

A Polícia Federal indiciou o secretário estadual de Irrigação, Rogério Porto, no inquérito que apura tentativa de fraude no processo de licitação para a construção das barragens de Jaguari e Taquarembó.

Foto: Antônio Paz/Palácio Piratini