segunda-feira, 31 de maio de 2010

A saudade do servo na velha diplomacia brasileira

O filósofo F. Hegel em sua Fenomenologia do Espírito analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra Pedagogia do oprimido. Com humor comentou Frei Betto: "em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor". Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor mas o cidadão livre.

Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor. O Globo fala em "suicídio diplomático"(24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:"Sucursal do Império" pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.

As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.

O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .

O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado. Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.

A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula.



Leonardo Boff
Teólogo

A CAMPANHA ELEITORAL ANTECIPADA

Rachel Duarte

rachelduarte@sul21.com.br



Os pré-candidatos ou gestores interessados em uma reeleição estão visivelmente a todo vapor em agendas públicas e espaços de rádio e televisão, por todo país. A linha que diferencia o que pode ou não ser considerado ato ou discurso de campanha eleitoral antecipada fica cada vez mais tênue. Com isso, se tornam recorrentes notícias sobre ações, representações ou multas emitidas pelo Tribunal Superior Eleitoral aos partidos ou candidatos.

Recentemente o ministro do TSE, Arnaldo Versiani, disse algo que pode apontar para uma mudança na legislação brasileira. “Em linhas gerais, sou amplamente favorável a qualquer espécie de propaganda. Eu gostaria que a propaganda fosse permitida num período maior do que esses três meses que antecedem a eleição…”, declarou à imprensa.

A fonte do "pode ou não pode" durante o ano eleitoral é a legislação eleitoral do TSE (Lei 9.504/97), que dispõe sobre a propaganda e as condutas vedadas em campanha nas eleições. As ações ajuizadas são julgadas pelos Tribunais Regionais Eleitorais e, depois do julgamento, as partes podem recorrer ao TSE e, em alguns casos, ao Supremo Tribunal Federal.

A linha de Versiani, de que quanto mais o eleitor puder conhecer o seu candidato, melhor, também é considerada como uma boa saída para o festival de multas e disputas judiciais em ano de eleição, na opinião do procurador regional do Rio Grande do Sul, Vitor Hugo Gomes da Cunha. “As leis não esgotam todas as possibilidades de infrações. É comum que a cada nova campanha surjam novas formas de burlar a lei por meio de mecanismos que ela não prevê e que acabam gerando divergências na hora dos julgamentos, gerando o que se chama de jurisprudência”, explica.

Como exemplo de que não é de hoje que há dificuldade entre a prática dos candidatos e a lei, o procurador do TRE-RS cita o caso do uso de outdoors na campanha eleitoral de 2006. “Eles eram proibidos, mas a lei não definia o que era outdoor; desse modo, os candidatos, por exemplo, faziam propaganda em muros de propriedades particulares em grandes dimensões, gerando efeito de outdoor”, explicou. Ele conta que na época houve divergência entre alguns membros do MP e alguns juízes. O conjunto das decisões tomadas no país inteiro forçou alterações na legislação; hoje, a Lei 9.504, alterada no ano passado, permite que esses muros sejam utilizados, mas que a propaganda não deve exceder a 4m².

Afinal, o que caracteriza propaganda eleitoral?

Existe uma diferença entre o espaço de propaganda dos partidos e a propaganda eleitoral. Durante todo o ano, conforme garante a Lei dos Partidos Políticos (9.096/95), as siglas tem direito a espaços nas emissoras de rádio e televisão. O tempo é destinado à transmissão de mensagens aos filiados e difusão da posição dos partidos em relação aos temas de interesse da sociedade. Em anos de eleição, o calendário eleitoral não permite a exibição deste tipo de comercial no segundo semestre, pois é neste período que são veiculadas as propagandas dos candidatos. Este ano, será de 17 de agosto a 30 de setembro.

Na propaganda eleitoral gratuita, dois terços do tempo que é destinado aos partidos é definido pela sua representação na Câmara Federal. O terço final é distribuído igualitariamente entre todos os partidos. A ordem da inserção da propaganda é por sorteio e elas devem ser veiculadas somente nos 45 dias antes da eleição. A fiscalização da aplicação das leis eleitorais durante as campanhas é atribuição do Ministério Público Eleitoral (MPE), legitimado pela Lei 9.504/97.

Segundo o Procurador Regional do Rio Grande do Sul, Vitor Hugo Gomes da Cunha, o MPE é um dos autores da maior parte das ações ajuizadas na Justiça Eleitoral e autor exclusivo das ações eleitorais de caráter criminal. Ele esclarece que, no que se refere à propaganda eleitoral e ao comportamento dos meios de comunicação durante a campanha, tanto o Ministério Público (MP) como os partidos, coligações e candidatos podem ajuizar ações no Tribunal Regional Eleitoral – RS. “Essa é uma prática que garante que todos os candidatos concorram em igualdade de condições, sem favorecimento pela mídia, pelo poder político ou pelo poder econômico”, afirma.

Qual o preço da pressa?

A propaganda dos candidatos só é permitida após o dia 5 de julho do ano eleitoral. Antes disso, qualquer menção à candidatura é vetada, seja qual for o meio de comunicação. O TSE também emitiu a Resolução 23.191 que, além de regulamentar a propaganda nas Eleições 2010, prevê multas de R$ 5 mil a R$ 25 mil aos que violarem as regras.

A única exceção é para campanhas intrapartidárias, mas somente na quinzena anterior à data que o partido decide definitivamente quem serão seus candidatos. Nessa época, ainda não podem ser utilizados rádio, televisão e outdoor. As regras também esclarecem o que não caracteriza propaganda eleitoral antecipada, como debates a convite de veículos de comunicação, desde que não haja pedido de votos.(Publicado site Sul 21- www.sul21.com.br)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

DEFINIDA AGENDA DE TARSO GENRO EM LIVRAMENTO NESTA QUARTA-FEIRA

















A Executiva Municipal do PT definiu em reunião na manhã desta segunda-feira, na sede do partido, a agenda do ex-ministro da Justiça Tarso Genro, pré-candidato ao governo do Estado . Tarso coordena a Caravana do PT, que tem percorrido vários municípios gaúchos ouvindo reivindicações e propostas dos diversos segmentos da sociedade gaúcha para formatação do programa de governo do PT.
A chegada de Tarso Genro a Livramento esta prevista para esta quarta-feira, dia 26, as 17h, vindo de Alegrete. Ele vai se encontrar com o prefeito Wainer Machado, do PSB. A visita é caracterizada por um símbolismo político de aproximação com os socialistas, que estão inclinados a definir apoio a pré-candidatura do ex-ministro. Logo após por volta das 17h30min , Tarso Genro estará na sede do PT, na Rua Brigadeiro Canabarro esquina com Hugolino Andrade, onde será recepcionado pela militância petista. Na sede do PT as 18h, ele concederá entrevista coletiva aos meios de comunicação de Livramento e Rivera. As 19h participará de um encontro com lideranças empresariais do município no prédio da ACIL- Associação Comercial e Industrial de Livramento.Logo após, por volta de 20h, Tarso Genro participará de um jantar por adesão na Churrascaria Sem Nome, da Avenida Tamndaré ao lado da Igreja do Rosário. Para Tarso Genro a visita a Livramento tem um significado muito especial por ter vivido em Rivera quando esteve exilado no período da ditadura militar,oportunidade em que fez grandes amigos dos dois lados da fronteira. O presidente do PT municipal, Fabrício Peres esta convidando a militância e aqueles que se identificam com as idéias de Tarso Genro para participarem das atividades previstas para esta quarta-feira. “ É fundamental o engajamento de todos os companheiros e simpatizantes para que possamos apresentar ao nosso pré-candidato a real situação do município e as nossas principais necessidades”, concluiu Fabrício.

PT,PSB e PCdoB JUNTOS PARA DISPUTAR AS ELEIÇÕES DE 2010














Do site do PT/RS ( Foto Caco Argemi)

“Temos um desfecho positivo para a esquerda que valoriza a política do Rio Grande do Sul e mostra a disposição dos nossos partidos de dar uma resposta forte para tirar o estado da letargia que se encontra”, com estas palavras Tarso Genro saudou a decisão do PSB e PCdoB de apoiar sua pré-candidatura do governo do Estado.

O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira (24), na sede do PCdoB, com a presença do pré-candidato Tarso Genro, do deputado federal PSB Beto Albuquerque, da deputada federal PCdoB Manuela Dávila, deputado federal PT Henrique Fontana e Marco Maia, do ex-governador Olívio Dutra, dos presidente Raul Pont do PT, Adalberto Frasson do PCdoB e Caleb Oliveira do PSB, entre outras lideranças dos três partidos que agora se aliam para disputar as eleições de 2010.

O deputado Beto Albuquerque disse que a candidatura de Tarso Genro unifica um campo político que vai retomar o crescimento do RS, e citou ações programáticas como a revitalização da Uergs, o apoio a pequena e micro empresas, a valorização do piso regional, a transparência na administração pública e a participação popular como fundamental para colocar o Estado de frente para o País. “Políticas que tem no nome de Tarso Genro a experiência de ter realizado este trabalho no governo federal.
O deputado socialista disse ainda que está disposto trabalhar para ampliar os apoios ao candidato petista. “Nós estaremos juntos, ampliando e buscando apoio por todo o Rio Grande para levar Tarso Genro ao governo do Estado numa frente ampla gaúcha”, entusiasmou-se Beto. E dirigindo-se ao ex-ministro disse “o PSB esta aqui para te abraçar, abraçar a tua candidatura, para reeditar uma velha parceria, em uma nova experiência, que a exemplo do que governo Lula fez pelo Brasil, vai reerguer o Rio Grande”.

A deputada Manuela falou pelos comunistas, e destacou que reconhece no PT, no PSB e no PCdoB “o governo que pode unificar o povo gaúcho e os vários setores, da cadeia produtiva do estado, para levar o Rio Grande ao desenvolvimento econômico que gera desenvolvimento humano”.

Disse ainda que um projeto para o RS não acontece isolado, “pois vivemos num grande Brasil, que juntos, por 8 anos, ajudamos a transformar numa Nação, com desenvolvimento e distribuição de renda”, ressaltou Manuela. E destacou ainda que “este desenvolvimento tem nome, em nível nacional, é o da companheira Dilma Roussef, e aqui no Rio Grande é tua candidatura que representa todo este trabalho” finalizou a deputada federal do PCdoB, abraçando o pré-candidato Tarso Genro.

A DOR DA GENTE NÃO SAI NO JORNAL

da Carta Maior

Beto Almeida*


O verso da canção de Luiz Reis e Haroldo Barbosa, gravada pelo Chico, me socorre diante do elevadíssimo grau de anti-jornalismo a que alcança hoje a imprensa brasileira, merecendo certamente a crítica de Lula logo ao chegar de sua gira internacional. A mídia nativa torce abertamente pelo fracasso da iniciativa do Brasil junto ao Irã. Prefere novas sanções, a lógica do castigo, o que cria perigosos riscos de desdobrar-se em guerra, em destruição e morte como se vê agora mesmo no Iraque. A mídia americana torceu fervorosamente pela invasão militar aquele país. Chegou a mentir sobre a existência de armas de destruição em massa.. Depois, o jornal New York Times pediu desculpas aos leitores pela desinformação, mas aí já havia mais de um milhão de iraquianos mortos. A mídia brasileira vai pela mesma linha? Se as potências mundiais resolverem aplicar uma sanção contra o programa nuclear brasileiro a partir de pretexto de que aqui também se constrói uma bomba, o que já foi insinuado, a mídia brasileira ficará contra o Brasil e o seu povo?

Recuperemos alguns momentos na nossa história para saber como nossa imprensa, agora mídia, tem se colocado. Nos momentos de crise, episódios dramáticos, encruzilhadas históricas, momentos de decisão, vamos constatar que freqüentemente esta mídia, aquela que é majoritariamente representante dos interesses dominantes na sociedade, esteve divorciada de soluções nacionais, opondo-se raivosamente aos interesses populares, descumprindo descaradamente sua auto-proclamada vocação democrática, assumindo, repetidas vezes, o viés golpista, oligárquico e anti-nacional.

Ela se opôs quando o país conquistava uma legislação de defesa dos direitos trabalhistas e, coerente com esta vocação oligárquica, até hoje estes mesmos segmentos midiáticos, – agora modernizados pela eletrônica, mas não nos padrões civilizatórios – continuam a conspirar e a pretender a destruição da CLT implantada na Era Vargas. Antes da CLT era comum patrões espancarem seus empregados….Há pouco vimos o brutal assassinato de uma jovem jornalista cometido pelo diretor de um destes grandes jornais oligárquicos simplesmente porque ela.teve a “ousadia” de……terminar o namoro. Esta mentalidade desdobra-se muitas vezes em linha editorial eivada de ódio social contra o povo. E qual não deve ser a dose deste ódio contra um retirante Lula quando ele “ousa” cruzar não apenas os mares e os continentes – com a agilidade que o moderno avião permite – mas, também cruzar e questionar com coragem os padrões de uma diplomacia convencional, conservadora e hipócrita que não apenas se conforma mas também cultiva sanções e guerras, desprezando a priori o diálogo entre os povos?

Se lá atrás, estes barões da imprensa foram capazes de festejar, escondidos e amedrontados, a morte de Vargas porque ela significaria o fracasso de uma política de industrialização de um país agrário, do estabelecimento de direitos trabalhistas e previdenciários, como não estarão agora os herdeiros destes barões a torcer para a derrota generalizada das iniciativas de Lula? Sobretudo quando Lula já bradou em momentos mais complexos que não se suicidaria como Vargas, não renunciaria como Jânio e não sairia do País como Jango!

Noticiaram: o Brasil não tem petróleo!!!

Para se medir até onde poderá chegar este anti-jornalismo, basta citar apenas um exemplo histórico: praticamente toda a imprensa fez campanha contra Vargas quando ele criava a Petrobrás. Essa mesma imprensa noticiava reiteradamente que não havia petróleo no Brasil, conforme diziam os relatórios de espertíssimos técnicos norte-americanos. Pode-se medir o tamanho da desinformação, do anti-jornalismo, pelo tamanho dos trilionários poços de petróleo pré-sal recém descobertos!

Pelo grau de precariedade jornalística, pode-se medir também que as elites jornalistas criticadas na fala presidencial estariam engrossando ainda mais, com a vassalagem de sempre, o coro da mídia internacional que percebeu claramente que na sua dialética de retirante Lula contraria interesses da indústria bélica, patrocinadora da lógica das sanções pelo Conselho de Segurança da ONU, avesso ao diálogo. Provavelmente veremos que em certos segmentos da mídia internacional aquele espaço editorial que reconheceu em Lula um mandatário com iniciativas para enfrentar a fome e a miséria, para integrar os povos e também para promover soluções democráticas, poderá passar a ser ocupado, também, com críticas a um presidente que “afronta a segurança e a paz internacional”, tradução esperta que dão para os interesses imperialistas, sobretudo do comércio internacional de armas. No dia em que Lula desembarcava no Irã a manchete do Estadão era “Farc tem acampamento na Amazônia”. Ou seja, Lula “tolerante com o terrorismo” lá e cá, era a mensagem subliminar.


Armas: lucros em cheque

Quando a Princesa Diana libertou-se do ambiente arrogante e despótico da realeza britânica e passou a fazer campanha contra a instalação de minas terrestres instaladas em Angola e outros países – e que ainda matarão ou mutilarão inocentes por décadas – logo logo a grande mídia sustentada por anunciantes ligados à indústria bélica tratou de estampar como controvertidos alguns de seus aspectos pessoais, suas pretensões pacíficas “inconseqüentes” e ,inclusive, o ”inaceitável” namoro com um árabe, peça que compunha a novelinha midiática para a destruição de sua imagem.. Estes poderosos interesses bélicos poderão insinuar que Lula estaria “ passando dos limites”…..Mas, até o Obama, em carta a Lula recomendou o acordo com o Irã. Agora foi enquadrado. O fantasma de Kennedy, ronda…

Por isso mesmo, é preciso ver o outro lado da crítica de Lula à imprensa. E talvez isto signifique encorajar as forças progressistas a uma reflexão que está presente nos esforços para realizar a Conferência Nacional de Comunicação, para aplicar o que ali se decidiu, mas, nem sempre encontra a capacidade para organizar as forças sociais que podem preencher a lacuna gigantesca que fere de morte a cidadania brasileira: a inexistência de um grande jornal popular, de massas, capaz de um jornalismo que promova os interesses nacionais, que encontre o seu lugar como ferramenta criativa e necessária para a construção de um Brasil verdadeiramente Nação!

Última Hora

Voltemos nossos olhos novamente para nossa própria experiência histórica. Já tivemos o jornal Última Hora, popular, nacionalista, capaz de refletir os interesses das classes trabalhadoras diuturnamente atacados pelo conjunto da imprensa oligárquica. Era um respiro democrático! Havia a polarização, a diversidade opinativa e política. Hoje há uma asfixia midiática anti-democrática. Não há sequer a controvérsia! E aquele jornal, que chegou a ter duas edições diárias, circulação nacional massiva, foi uma iniciativa encorajada por Vargas. Quando em 1954 a mídia conservadora comemorou a morte de Vargas, o Última Hora chorou e resistiu ao lado do povo que saiu às ruas. Quando em 1964, esta mesma mídia oligárquica suplicou e colaborou com o golpe de estado, o Última Hora resistia e defendia a democracia.

Jornalismo estratégico

Dentro da visão estratégica de um país que pretende desempenhar legitimamente um papel importante e protagonista no jogo do poder internacional – e era assim na Era Vargas e é assim novamente agora com Lula – nós, como povo brasileiro e como Nação, não podemos deixar de lado esta questão que continua a nos desafiar. Vários passos importantes foram dados, entre eles a conquista simbolizada na criação da TV Brasil. E mais ainda agora quando na próxima segunda-feira será lançada a TV Brasil Internacional, inicialmente para dialogar com os quase três milhões de brasileiros espalhados mundo afora. A iniciativa, louvável, trará com mais realismo a necessidade do Brasil também dialogar com outros povos já que pretende atuar para que as relações internacionais sejam democratizadas, reequilibradas e marcadas pela cooperação.

Vale lembrar que a Rádio Nacional, também criada na Era Vargas, chegou a ser a quarta mais potente emissora do mundo, além de ter programação em 4 idiomas, alcançando vários continentes e tendo em seu corpo de redatores brasileiros como Nestor de Hollanda, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, Cecília Meirelles etc. A TV Brasil Internacional tem uma herança em que se apoiar e tem um caminho que pode recuperar para levar a mensagem de uma nação brasileira que se empenha por um mundo mais justo e baseado na cooperação, não nas sanções.

Será que as forças progressistas não deveriam encarar de fato esta tarefa da construção de um jornal popular, nacional, de ampla circulação, fazendo jornalismo na verdadeira acepção da palavra e recuperando para o jornalismo a missão de bem público e de ferramenta civilizatória hoje ignorada em boa medida pela mídia hegemônica no Brasil?

Será que estas forças que foram capazes de articular, se organizar, para resistir à ditadura, enfrentar o neoliberalismo e se fortalecer para chegar à presidência – um feito de proporções históricas numa sociedade com os arraigados esquemas dos donos do poder – não teria também a capacidade de construir um jornal e de praticar um jornalismo público, civilizador, humanista? Não se trata de estimular aqui nada contra as iniciativas para democratizar a informação no espaço digital. Trata-se de complementar, de articular, até porque com toda a importância e o grande efeito que comprovamos na internet, tuitar não esgota a necessidade de fazer jornalismo. Não se deve pretender apenas repercutir, contestar, confrontar a unanimidade conservadora da mídia hegemônica e seu anti-jornalismo em vias de deterioração acelerada.

Surra midiática diária

Há iniciativas importantes, a realização da Confecom é uma delas, a TV Brasil já citada, a recriação da Telebrás estatal, aliás, uma clara aplicação de decisão tomada na Confecom, são outras. Surgiram a Altercom, o Barão de Itararé, o Mídia Livre, todos os blogs e portais, os jornais e revistas alternativas, as TVs e rádios comunitárias etc mas, ainda assim, estamos em boa medida dispersos, desarmados no campo da comunicação e os interesses nacionais, populares, democráticos, levam várias surras por dia, todos os dias.

Vemos que algumas das forças que se articularam para levar Lula á presidência também poderiam coordenar-se para que milhões de brasileiros pudessem entrar também na Era de Guttemberg, ao mesmo tempo em que este seria, obviamente, um jornal também digital. Um jornal que permitisse chegar aos grotões, urbanos ou não, um instrumento para a discussão, a mobilização, a ação e a organização política nas mãos de uma militância carente de ações organizadas que já teve no passado.. Será que a união de certos fundos de pensão (tão lucrativos), centrais sindicais, empresários vinculados ao mercado interno não poderia enfrentar esta tarefa que sempre volta à baila?. Há dois anos foi aprovado num congresso do PT a prioridade para a criação de um jornal de massas, mas não se realizou. Hoje, na Argentina há um Página 12, no México, há o La Jornada, na Bolívia, o jornal Cambio, criado por Evo Morales e que já é o de maior tiragem no país, com apenas 7 meses de nascido, rivalizando com o jornal conservador La Razón, que tem 70 anos. Na Venezuela, nasceu o Correio do Orenoco, está em todas as bancas, ainda que o governo tenha fortalecido a mídia pública de rádio e TV, sem contar que Hugo Chávez tem mais de 300 mil seguidores no twiter, que usa com entusiasmo. Aqui, desde o desaparecimento do Última Hora, estamos sem um jornal de ampla circulação e com capacidade de sustentar uma visão jornalística dos interesses nacionais e populares. É uma grande lacuna.

E nós?

Assim, a bronca de Lula nesta elite de jornalistas que se posiciona claramente contra o sucesso das iniciativas que visam levar o Brasil a ter um papel construtivo no mundo, sendo correta, será que não deveria também servir para provocar uma reflexão, certamente autocrítica, nas forças populares? O jornalismo ou o anti-jornalismo das elites cumpre o triste papel que lhes reserva a subordinação a interesses anti-nacionais. Mas, onde está o jornal das forças progressistas?

(*) Beto Almeida é Presidente da TV Cidade Livre

sexta-feira, 21 de maio de 2010

VILLA LANÇA CADERNO DE DEBATES ENFOCANDO O URUGUAI

O deputado estadual ADão Villaverde estará lançando nesta semana
na Fronteira Oeste,
o caderno Debates
editado pelo seu gabinete e que
trata do Uruguai.
Em seu número 15, o Debates
aborda as últimas eleições nacionais
do vizinho país, a convivência na
divisa entre brasileiros e uruguaios
e resgata epi sódios hi s tór icos
ocorridos na fronteira oeste, que são
pouco conhecidos da história oficial
como a primeira greve contra uma
multinacional, ocorrida em 1919, e
uma chacina acontecida no Parque
Internacional de Livramento em 1950.
Além do deputado, que analisa
a vitória de Pepe Mujica eleito
presidente no ano passado, são autores
d a p u b l i c a ç ã o
o j o r n a l i s t a
e h i s t o r i a d o r
J o ã o B a t i s t a
Marçal e o atual
superintendente
r e g i o n a l d a
(Funasa), o uruguaio
Gustavo de Mello
que reside há 27
anos no Brasil. A
publicação tem 36
páginas.
Villa é autor do
ensaio intitulado
‘ V i t ó r i a d a s
mudanças sobre o
conservadorismo e a prepotência
- Acerca das eleições uruguayas’,
elaborado durante as campanhas
eleitorais entre os dois turnos do pleito
que escolheu Mujica para presidir
o Uruguai, no final do ano passado.
Ao incursionar por Montevidéu e
arredores, percebeu que um novo país
está se consolidando aqui ao lado,
desde a primeira vitória da Frente
Ampla, há cinco anos, com Tabaré
Vázquez ungido pelas urnas como
primeiro mandatário da Nação.
O doble-chapa Gustavo de Mello
escreve o texto “Povo novo”, que
trata da vida na fronteira que em
alguns casos, como Rivera/Santana do
Livramento, não passa de um limite
tênue demarcado por uma avenida
onde se pode colocar um dos pés em
cada uma das nações.
Como diz a historiadora Liane
Chipollino Assef na dissertação de
mestrado “Memórias Boêmias: história
de uma cidade da fronteira”, que
contextualiza o ambiente eleitoral
de 1950, a imprensa oficial da época
ignorou a versão das vítimas do
Massacre de Livramento. Assef informa
que a Folha Popular não circulou, O
Republicano destacou a versão da
polícia local e A Platéia, três dias
depois dos episódios, em editorial,
responsabilizou “os adeptos de Stálin
pelo hediondo ato” referindo-se aos
comunistas perseguidos pelas forças
policiais.
E mesmo os candidatos à presidência
- Eduardo Gomes
e Getúlio Vargas
- que dias depois
discursaram em
Livramento não
mencionaram a
chacina embora
tivessem rejeitado
o l o c a l d a
tragédia (o Parque
I n t e r n a c i o n a l )
p r e f e r i n d o
promover comícios
no aeroporto da
Varig e na praça
Barão de Ijuí.
O c e r t o é
que a afamada “Fronteira da Paz”
t rans formou- se em cenár io de
grande violência. E Rivera acolheu
respeitosamente os sobreviventes
brasileiros, como se fossem legítimos
uruguaios.
Estes dois episódios não constam
na história oficial do Rio Grande do
Sul. Portanto não estão nos livros que
louvam heróis fardados, fazendeiros
bombachudos e latifundiários bem
fornidos. Nem estrelam narrativas
que se exigem decorar para enfrentar
provas de conhecimento para ingressar
nas universidades.
Os protagonistas são operários
simples, ativistas de esquerda,
c omu n i s t a s , qu e pe rde r am a
vida procurando lutar contra as
injustiças e as desigualdades e,
sobretudo, defendendo suas opiniões
e seus direitos.
Assim, queiram ou não, estão
incrustados na realidade histórica do
nosso Estado, menos em documentos
formais; mais em coleções de jornais
amarelados pelo tempo, carcomidos
pelas traças e cujas inscrições, forjadas
com tintas de antigos linotipos, vão se
apagando, irreversivelmente.
Mas ainda se pode, apesar de
tudo, buscar preservar a memória e a
verdade, resgatando no nosso passado,
os fatos que seguem, ocorridos no
solo riograndense fronteiriço com o
Uruguai.

sábado, 15 de maio de 2010

DILMA PASSA SERRA EM PESQUISA VOX POPULI

Pela primeira vez, a pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, aparece à frente do pré-candidato do PSDB, José Serra, em pesquisa de intenção de votos feita pelo Instituto Vox Populi. A ex-ministra tem 38% das intenções de voto e o ex-governador de São Paulo, 35%. A margem de erro da pesquisa é de 2,2%, para mais ou para menos. A pesquisa foi encomendada pela Rádio e Televisão Bandeirantes Ltda.
A terceira colocada, Marina Silva (PV), tem a preferência de 8% dos eleitores. Os votos brancos e nulos somam 8% e 14% não responderam ou não souberam responder.

A petista também já ultrapassou o tucano em eventual segundo turno. A pesquisa revela que 40% dos eleitores preferem Dilma e 38% ficariam com Serra. Os votos nulos e brancos somariam 9%. Outros 13% de eleitores não responderam ou não souberam responder.

A pesquisa de intenção de voto espontâneo – quando o eleitor abordado pelos pesquisadores diz em quem vai votar sem consultar nenhuma lista – também aponta a liderança de Dilma Rousseff. Ela aparece com 19% das intenções de voto, enquanto Serra tem 15%. Em janeiro, cada candidato obteve 9% das intenções de votos espontâneos.

Lula garante votos

O apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua garantindo transferência de votos à pré-candidata do PT. Entre os eleitores entrevistados, 33% dizem que votariam com certeza no candidato apoiado pelo atual presidente. Outros 30% poderiam votar no candidato indicado por Lula, mas dependeria do nome escolhido. Somente 10% disseram que não votariam no candidato apoiado pelo mandatário e 24% não levariam a opinião do presidente em conta na hora de escolher o candidato.

Os dados mostram Marina Silva como a pré-candidata com maior nível de rejeição (21%), seguida de Serra (20%) e Dilma (15%). A pesquisa foi protocolada sob o número 11.266/2010. Foram entrevistados 2 mil eleitores em 117 municípios brasileiros de todas as regiões entre 8 e 13 de maio.

Disputa regional

A petista tem a preferência dos eleitores em quatro das cinco regiões brasileiras: Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Já Serra, vence no Sul do país.

A maior diferença percentual a favor de Dilma é no Nordeste, onde o presidente Lula goza de enorme prestígio. A pré-candidata do PT tem 44% das intenções de voto, contra 29% de Serra. No Sudeste, a disputa é acirrada. A petista tem 35%, contra 34% do tucano. No Centro-Oeste, Dilma tem 33% das intenções de voto, contra 31% de Serra. No norte, Dilma lidera com 41%, contra 32% de Serra.

Já na Região Sul, o pré-candidato do PSDB lidera com grande vantagem. Serra tem 44% das intenções de voto, enquanto Dilma tem a preferência de 30% dos eleitores.

Confira a pesquisa completa na edição impressa do Estado de Minas deste domingo.

Vitória no primeiro turno

Diante do crescimento da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas presidências, e da estagnada de José Serra, o diretor do Instituto Vox Populi, João Francisco Meira, acredita na possibilidade de a candidata petista vencer “a eleição já no primeiro turno”.

Meira analisa que nem Dilma nem Serra são carismáticos, mas o sistema petista tem alguns trunfos, como o avanço econômico no governo Lula.

Para construir uma boa campanha, o diretor do Vox Populi citou que o tempo de TV será decisivo, já que um arco maior de alianças possibilitará aumento no horário disponível.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

LULA É CAMPEÃO MUNDIAL NA LUTA CONTRA A FOME

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá o prêmio "Campeão Mundial na Luta contra a Fome" do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, informou a entidade nesta sexta-feira.



A premiação será realizada em Brasília na segunda-feira e será entregue pela diretora executiva da agência da Organização das Nações Unidas, Josette Sheeran, anunciou o órgão em seu site na Internet.


Ela iniciará visita de dois dias ao Brasil no domingo e deverá visitar projetos do programa Fome Zero em cidades próximas a Brasília para avaliar o impacto da iniciativa.


Segundo a PMA, "o prêmio destaca a importância da parceria com o Brasil em momentos como o terremoto no Haiti... e o reconhecimento dos esforços do governo do país no cumprimento das Metas do Milênio".


Na semana passada, a revista norte-americana "Time" elegeu Lula como um dos 25 líderes mais influentes do mundo.


(Por Hugo Bachega- O Estado de São Paulo)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O FALSO GENÉRICO

por Luiz Carlos Azenha

Tudo muito previsível até aqui na campanha eleitoral de 2010.

A notícia que não sai é sobre o extraordinário protagonismo que a própria mídia está jogando na campanha.

Um esforço que começou mais cedo, é muito melhor articulado e disseminado do que em 2006, por exemplo.

O padrão básico é o de desconhecer, demonizar ou associar a ex-ministra Dilma Rousseff a gafes, tropeções, erros e factóides. E o de dar ênfase aos “avanços” do ex-governador José Serra — na aliança com o PSC, com Marina Silva no Rio de Janeiro e assim por diante, se vocês me entendem.

Só a articulação com a mídia permitiu à oposição criminalizar o Instituto Sensus e lançar dúvidas sobre a credibilidade do Vox Populi, uma estratégia que permitiu ao Jornal Nacional anunciar que só divulgará os números de dois institutos “amigos”, o Ibope e o Datafolha.

A truculência digital que marcou as primeiras semanas de campanha na rede teve, em minha opinião, o objetivo de amedrontar a blogosfera que floresceu à margem das grandes empresas, além de transferir a matriz do debate para factóides e questões secundárias. Até nos comentários do blog notei a presença de novatos cujo objetivo parece ser o de “mudar de assunto” em relação ao conteúdo dos posts, de questionar o autor com ataques pessoais, etc.

Nada que me surpreenda: acompanhei a campanha eleitoral mais recente nos Estados Unidos e testemunhei o emprego dessas mesmas táticas.

Constatei pessoalmente a sujeição da política ao trabalho dos marqueteiros. O “produto” é colocado no mercado com o objetivo de enfatizar algumas características dele, deixando em segundo planos as mais desagradáveis. A máquina de moer carne dos republicanos fez um trabalho eficaz para reapresentar John McCain, um político de bastidores de Washington, como “independente”, um “outsider” — ou seja, para descolar McCain do legado desastroso do partido na economia e na política externa. Ao fim e ao cabo, McCain ainda conseguiu 45% dos votos.

Voltando ao protagonismo da mídia, nos Estados Unidos a Fox News, de Rupert Murdoch, fez muito mais que acompanhar a disputa eleitoral. Ela foi cabo eleitoral ativo, dando repercussão às notícias mais bizarras sobre Obama, como o fato de o democrata ter estudado em uma escola religiosa quando criança, na Indonésia, o fato de Obama fumar e a falsa polêmica sobre se Obama tinha mesmo nascido nos Estados Unidos. Lá tinha “outroladismo”, sim, mas recolocado da seguinte forma: um republicano lançando suspeições sobre a certidão de nascimento de Obama e um democrata dizendo que era tudo um tremendo absurdo. Assim era a cobertura “justa e equilibrada” da Fox.

Muito embora essa tática pareça bizarra aos olhos de quem tem senso de ridículo, não é. As notícias que surgiam em tablóides ou fofocas ganhavam ampla repercussão nacional através da Fox e, em seguida, alimentavam a rede nacional de programas de rádio de inclinação republicana. E, assim, o debate sobre questões políticas — quem John McCain representa, por exemplo — foi desfocado para características pessoais de Barack Obama.

No Brasil, em relação a 2006, quando a mídia também foi protagonista, algo mudou: a rápida expansão da internet e da telefonia celular. Hoje é raro encontrar algum jovem brasileiro que esteja completamente desconectado. Se você acha que já viu o pior da campanha de 2010, aguarde: em breve, teremos as chamadas feitas por robôs e as mensagens de texto via celular.

Há outra diferença crucial entre os Estados Unidos e o Brasil, neste campo. Lá, o processo de esgotamento da proposta política e econômica representada por George W. Bush e os neocons resultou numa militância dos democratas como há muito não se via, especialmente mas não apenas na internet. No Brasil, não se pode dizer que os últimos oito anos tenham sido marcados pela politização da sociedade. A ênfase foi em promover um desenvolvimentismo dissociado da política: mais vagas, mais geladeiras, mais automóveis.

O presidente Lula, ao buscar uma eleição plebiscitária, propôs circunscrever o debate ao “quem fez mais pelo país”. Na atual conjuntura econômica, talvez tenha acertado. Conta especialmente com os votos daqueles milhões que ascenderam socialmente durante seus dois mandatos.

O problema está no fato de que essas pessoas não necessariamente relacionam sua ascensão social a um projeto de governo. Talvez associem à figura do presidente da República que, como se sabe, não concorre.

Os eleitores despolitizados são os mais vulneráveis ao marketing eleitoral e à reprodução de padrões de pensamento aos quais não chegaram por conta própria. Às vezes, um eleitor machista que não queira ver uma mulher no Planalto só precisa de uma desculpa socialmente aceitável para se decidir. Dizer abertamente que não quer uma mulher na presidência não é socialmente aceitável. “Dilma terrorista”, por exemplo, é muito conveniente, ainda que historicamente falso.

Deriva daí a proposta da oposição de apresentar o ex-governador José Serra como “genérico” de Lula. E propor aos eleitores que não se trata de avaliar e escolher entre dois projetos políticos distintos, mas de encontrar o “melhor genérico” para substituir o presidente da República.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A INTERNET SE CONTRAPÕE A VERSÃO DA IMPRENSA

Paulo Henrique Amorim , no blog Conversa Afiada





“A liberdade de expressão e de imprensa tem precedência sobre outros direitos, incluindo os ligados à privacidade e à honra”.

“A Constituição tornou plena (a liberdade de comunicação), … para deixar claro que entre a imprensa e a sociedade civil há uma linha direta”.

Essas foram – segundo a Folha (*) – na pág. A15 , palavras do Ministro Ayres Britto, que relatou a ação que derrubou a Lei de Imprensa, num evento no Rio em que foi homenageado, no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

(Engraçado, por que não convidaram o Conversa Afiada ?)

Especificamente sobre a liberdade de expressão na internet, Britto já tinha dito:

“A internet tem dois méritos: mobiliza a sociedade de uma forma interativa, que em época de eleição deve ser turbinada, não intimidada. E está criando uma nova sociedade civil mundial. Qualquer regulamentação no nível dos Estados é provinciana.”

“A internet não pode ser regulada. A imprensa regula o Estado e a internet se contrapõe à própria versão da imprensa sobre as coisas. A internet é o espaço da liberdade absoluta, para além da liberdade de

domingo, 2 de maio de 2010

GREMIO CAMPEÃO !












Como todo o gremista claro que estou feliz com a conquista do Gauchão 2010.Mas esta felicidade não é completa por mauis que entenda tratar-se de uma decisão de 180 minutos.O Gremio não jogou bem neste domingo embora tivesse criado as melhores oportunidades transformando o goleiro do Inter na melhor figura da partida. JOgava em casa e deveria no minimo ter empatado o jogo e não teve competencia para tanto. Fica a lição para o jogo com o Fluminense na próxima quarta-feira pela Copa do Brasil. Porém ser campeão em cima do Inter é sempre bom. Da-lhe Gremio! (Foto Daniel Marenco -ZH)

SER DE ESQUERDA

Fernando EVangelista - JOrnalista

O governo Lula trouxe à baila uma discussão que alguns intelectuais, daqui e de fora, haviam decretado como ultrapassado: o que é ser de esquerda hoje? O presidente, mesmo sem querer, ressuscitou o debate ainda no início do seu segundo mandato, deixando muita gente confusa.

O problema é que a dúvida durou pouco e ficou mais ou menos assim: exceto alguns inexpressivos grupos partidários, é de esquerda quem apóia o governo Lula, é de direita quem o critica. O curioso é que o próprio presidente disse, em mais de uma ocasião, que não é e nunca foi de esquerda. Porém, algumas coisas devem ser ignoradas porque senão tudo perde o sentido.
Vive-se um Fla-Flu político pouco polido e muito raivoso, e quanto mais próximas as eleições, maiores os decibéis da gritaria entre simpatizantes e críticos do governo. Por isso, de maneira simples e objetiva, destaco algumas posturas que, na minha visão, seriam os pressupostos formadores do homem ou da mulher de esquerda.

Escolhas
Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.

Vida Real
Eu conheço três homens de esquerda. Nenhum deles participa de partidos políticos ou utiliza palanques para proclamar suas próprias virtudes. Não são super-heróis ou pessoas infalíveis, são pessoas de carne e osso, com qualidades e contradições. São homens de esquerda, sem nunca, talvez, terem pensado nisso. Os três são de Santa Catarina.
O primeiro e mais novo é Vilson Groh, 55 anos, padre que vive e trabalha há 30 anos no Mont Serrat, comunidade da periferia de Florianópolis. Entre dezenas trabalhos que coordena, está o Aroeira, onde cinco mil jovens, todos pobres, quase todos negros, recebem formação profissional, com bolsas, para entrar no mercado de trabalho. Foi através de outro projeto, o Pré-Vestibular da Cidadania, que 400 jovens daquela comunidade se formaram nas universidades públicas de Santa Catarina e outros tantos seguem o mesmo caminho.
O segundo chama-se Aldo Brito, 77 anos, farmacêutico, que dedica a sua vida à luta pela inclusão dos portadores de necessidades especiais. Quando foi presidente da APAE, idealizou a Feira da Esperança, maior evento filantrópico de Santa Catarina. Há 11 anos, criou a COEPAD (www.coepad.hpg.ig.com.br), a primeira cooperativa no Brasil tocada por portadores de deficiência intelectual.
O terceiro é Francisco Xavier Medeiros Vieira, 78 anos, que escolheu a magistratura porque entendia ser o caminho mais eficaz para lutar por justiça. Entre seus projetos, está a construção de 50 casas da cidadania, para agilizar e humanizar o Poder Judiciário. Foi ele quem implementou e coordenou a primeira eleição computadorizada na América Latina e foi ele, quando presidente do Tribunal de Justiça, quem nomeou o primeiro juiz agrário do Brasil, para evitar conflitos no campo. O homem de esquerda sabe que não é justo, por isso inaceitável, que menos de 1% dos proprietários rurais detenham 46% de todas as terras agricultáveis do país.
Os três são movidos pela integridade de caráter, pela generosidade de espírito e por uma bondade risonha. E é com pessoas assim, como escreveu o poeta e revolucionário cubano José Martí, “que vão milhares de homens, vai um povo inteiro, vai a dignidade humana”. Então, para quem diz que a esquerda na essência não existe ou perde tempo com argumentos teóricos vazios de sentido, para quem ainda não entendeu o embuste da briga entre tucanos e petistas, aí está o exemplo destes três homens. Três homens de esquerda.
Fernando Evangelista é jornalista -