domingo, 23 de agosto de 2009

AINDA HÁ RESQUICIOS DE PÓLVORA!




Por Dagberto Reis

A pólvora da bala ou das balas, calibre 12 que tiraram a vida do trabalhador rural Elton Brum, 44 anos,morto pelas costas -onde aparecem oito perfurações- estão simbolizados em muitas mãos e não apenas nas de quem acionou o gatilho da arma, seja ele soldado ou oficial.Esta pólvora suja as mãos e cheira forte na consciência daqueles que defendem a paz no campo como mera falácia, apenas com o intuito de proteger os seus interesses e daqueles que de forma sabuja são subservientes ao sistema, optando covardemente por ficar ao lado dos poderosos.Não entendem eles e não querem mesmo entender, de que justiça social se faz com dignidade, com distribuição de renda e que a reforma agrária faz parte desta luta dos movimentos sociais e populares como o MST, por exemplo. Os resquícios desta pólvora estão nas mãos daqueles que planejaram, que montaram a estratégia, comandaram e deram o aval para que a repressão fosse a mais violenta possível, descumprindo os procedimentos adotados em desocupações, o que é padrão no Brasil, menos no Rio Grande onde o autoritarismo e a truculência são instrumentos de governo. O profissionalismo apontado pela promotora de São Gabriel,observado de forma biônica, já que segundo a própria estava a 400 metros,caiu por terra com a queda daquele que planejou, montou a ação, o coronel Lauro Binsfeld, notório desafeto do MST pelo qual nutre – e não é de hoje- um ódio profundo.Logo alguém que de forma alguma poderia estar preparado profissionalmente para conduzir uma ação onde havia um clima de tensão.A declaração da promotora deixa uma saia justa para o Ministério Publico Estadual. Fica o questionamento sobre os motivos que deixam uma promotora a esta distância da ação e a imprensa ainda mais longe. Seria para não denunciar as atrocidades, os excessos cometidos pela Brigada Militar¿ Não se justificam os argumentos de garantia de segurança,já que ali estavam policiais militares fortemente armados enfrentando indefesos sem terra que contavam com ferramentas de trabalho e pedaços de pau para se defenderem não só do aparato bélico,mas também de cães, tratores e retro-escavadeiras em um local isolado onde os vencedores contam a história final para a sociedade, prevalecendo a sua versão.
A repulsa da sociedade preconceituosa, da elite branca, com quem luta por um pedaço de terra é a mesma que outrora sofreram os índios exterminados e os negros escravizados. A criminalização dos movimentos sociais imposta pela governadora Yeda é a consequência do desfecho trágico desta desocupação em São Gabriel. A morte de Elton não vai arrefecer a luta do MST.

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