quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TERRORISMO ELEITORAL

Por Fabio Regio Bento

Estávamos em 1969, eu tinha seis anos. Tomei banho, mudei de bermudas, coloquei uma camiseta listrada, dourado e azulão. Na casa de um amigo, a conversa era em tom assustador. Adultos preocupados com a possível passagem pela cidade de dois “terroristas tupamaros”, do Uruguai. Eu não sabia o que era um terrorista e muito menos um tupamaro. Na rua, sozinho, notei que havia um Jeep com dois desconhecidos. Fugi com medo de que fossem os tais tupamaros.

O medo dos tupamaros gerou, também, a curiosidade. Seriam eles como homens de ferro? Ou como o Thor? Minha compreensão das coisas estava associada aos meus brinquedos. “Os tupamaros são comunistas”, ouvi. Continuei sem entender. Terrorista, tupamaro, comunista, palavras diferentes, todas elas associadas ao medo e, também, ao mistério.

Dez anos depois, entrei numa favela, com um amigo, para deixar uma caixa de mantimentos para uma família pobre. Fiquei horrorizado. Em vez de ir embora, após entregar as doações permaneci lá, conversando. Um casal jovem, ele trabalhava 13 horas por dia numa olaria e ganhava muito pouco. “Pobre não é pobre porque não quer trabalhar”, concluí. Na minha escola, comecei a ler livros de história para tentar entender por quais motivos algumas pessoas, mesmo trabalhando 13 horas por dia, não tinham um salário digno.

Continuei frequentando as favelas. Continuei lendo. Continuei com aquele desejo novo de mudar o mundo, ou, ao menos, a cidade. “Como mudar?”, perguntei-me. Lendo, descobri: por meio de reformas ou de revolução. Na cidade de Pelotas, uma palestra sobre mudanças e revolução, para alguns convidados. “Sou comunista, mas não como criancinhas”, disse o palestrante, rindo, brincando. Lembrei-me logo de meus medos de infância, o medo dos comunistas tupamaros. Como já escrevi outras vezes, foi pelos caminhos da vontade de mudar o mundo que fiz amizade com alguns comunistas.

Descobri, depois, quem foi o lutador Tupac Amaru, de onde o nome tupamaros. Um revoltado, como eu, como você, contra as injustiças sociais. Ao ler o livro “Batismo de Sangue”, do frei Betto, percebi que terrorismo foi palavra usada pela oposição. Terroristas seriam bandidos de esquerda? Depende. Há casos e casos. Há os que deixaram o país logo depois do golpe de 1964. E há os que ficaram, para resistir, para tentar tirar da cadeia os amigos que estavam sendo torturados, presos sem direito à defesa.

Terrorismo, no Brasil, não foi coisa de bandido de esquerda, mas coisa de bandido de direita, torturadores, pais culturais dos que hoje entopem nossas caixas de e-mails com mensagens difamantes contra uma mulher, cidadã brasileira, mãe e avó. Dilma não é uma bandida de esquerda, e José Serra não foi concebido sem pecado original.

Fábio Régio Bento
Professor Adjunto de Sociologia na Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Bacharel em Ciências Sociais, Mestre em Ciências Sociais, Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade San Tommaso (Roma, 1996). Bacharel em Teologia; Mestre em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense (Roma, 1992). Articulista do Jornal Notisul. fabiobento@unipampa.edu.br

Nenhum comentário: