domingo, 10 de maio de 2009

PT CONVERSARÁ COM TODAS AS BANCADAS PARA ABRIR UMA CPI


A bancada do PT na Assembléia Legislativa reuniu-se extraordinariamente na tarde deste domingo (10) para analisar as denúncias publicadas na última edição da revista Veja sobre corrupção no governo Yeda Crusius e sobre o uso irregular de recursos de campanha para a compra da casa da governadora. A publicação revela o conteúdo das gravações de conversas entre dois ex-assessores de Yeda, Lair Ferst e Marcelo Cavalcante. Veja teve acesso à 1h30 das gravações e os petistas querem acesso às 10h do diálogo. Na entrevista coletiva concedida após a circulação da revista, a própria governadora reconheceu a existência do diálogo dos seus ex-assessores e a viúva de Cavalcante, Magda Koenigkan, afirmou à revista que o governo pressionava o seu marido para negar que a voz fosse sua. “Diante dessas novas denúncias, estamos atualizando o pedido de CPI e vamos conversar com todas as bancadas. A sociedade exige firme ação do Parlamento Estadual e somente as investigações de uma CPI poderão responder a este sentimento de impunidade e esclarecer o povo gaúcho”, sintetizou o líder da bancada, deputado Elvino Bohn Gass, após tratar o tema com os deputados Daniel Bordignon, Fabiano Pereira, Stela Farias e Ronaldo Zülke. O PT também quer uma auditoria para esclarecer a origem de pagamentos de hospedagens de Cavalcante e de festas na casa de Yeda e sobre o fato de os R$200 mil, doados por uma empresa fumageira, não constar na prestação de contas da campanha da governadora. Há mais de 30 dias, a bancada do PT espera uma resposta do governo sobre um pedido de informações a respeito da compensação de créditos de exportação a empresas fumageiras.Às 15h desta segunda-feira (11), a bancada do PT reúne-se com a direção da OAB/RS e também tem encontro com deputados do PSB, do PCdoB e do PDT. “Vamos conversar com todas as bancadas para garantirmos as 19 assinaturas necessárias para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito”, frisou Bohn Gass, ao observar que essas novas revelações comprovam a necessidade de dar continuidade às investigações da CPI do Detran, que já apontavam muitos dos fatos que surgiram agora. Para os petistas, as informações da Operação Solidária são fundamentais para esclarecer esse cenário. Para entender o escândalo"O caixa dois do caixa dois" é o título da matéria da edição da revista Veja que revela o conteúdo das gravações de conversas entre dois ex-assessores de Yeda sobre a utilização irregular de recursos de campanha para a compra da casa da governadora. Entre outras coisas, a matéria dá conta de que Marcelo Cavalcante entregou a Carlos Crusius R$ 400 mil doados pelas empresas fumageiras CTA Continental e Alliance One, e que os recursos foram desviados para contas pessoais do casal com a anuência de Yeda. Além disso, expõe que a agência de publicidade DCS - que hoje atende o Banrisul - responsabilizava-se pelo pagamento das diárias de hotel de Cavalcante e pelos jantares que a governadora fez antes e depois da eleição. E que o Sindicato da Indústria da Construção de Estradas (Sicepot) enviava mensalmente ao gabinete da então deputada Yeda Cruius R$ 10 mil, que iram diretamente para ela por intermédio de Walna Vilarins, atual coordenadora de ações administrativas do governo gaúcho.A publicação teve acesso a gravações de conversas mantidas entre o ex-chefe de gabinete de Yeda entre 2002 e 2006, coordenador de sua campanha eleitoral e ex-chefe da representação do governo gaúcho em Brasília, Marcelo Cavalcante, e Lair Ferst, indiciado pela Operação Rodin pela fraude que desviou pelo menos R$ 44 milhões do Detran. O corpo de Marcelo foi encontrado no lago Paranoá em fevereiro deste ano. Lair foi o responsável pelas 10 horas de gravações, em poder do Ministério Público Federal.Depois disto, a revista entrevistou a viúva de Cavalcante, Magda Koenigkan, que confirmou o conteúdo das gravações. Ela contou que Marcelo soube da existência dos áudios. "Lair lhe mostrou as gravações e disse que as entregaria às autoridades para provar que os responsáveis pelos desvios no Detran eram integrantes do governo Yeda, e não ele". Mais: ele também avisou Yeda sobre o esquema de corrupção no Detran e disse ter entregado a ela uma carta de 8 páginas na qual Lair Ferst descrevia o modo como os recursos eram desviados. Leia a matéria na íntegra:O CAIXA DOIS DO CAIXA DOISGravações e um depoimento da empresária Magda Koenigkan lançam uma nova sombra sobre o governo Yeda CrusiusA governadora gaúcha Yeda Crusius, do PSDB, não tem sossego. Enfrenta acusações de ter usado caixa dois em sua campanha eleitoral desde antes de tomar posse, em janeiro de 2007. Fato espantoso, as primeiras denúncias partiram de seu vice, Paulo Feijó. Como se não bastasse, no mesmo ano, a Polícia Federal desbaratou uma máfia que desviava recursos do Detran gaúcho. Os escândalos ceifaram três secretários de governo e o chefe da representação do Rio Grande do Sul em Brasília, Marcelo Cavalcante. Em seguida, a governadora foi obrigada a explicar onde arranjou dinheiro para comprar, no fim de 2006, uma casa em um bairro nobre de Porto Alegre. O caso, que lhe rendeu um pedido de impeachment, acabou arquivado pelos promotores gaúchos. Em fevereiro passado, a morte repentina de Marcelo Cavalcante injetou uma dose de tragédia nas agruras do governo tucano. O corpo do ex-assessor foi encontrado boiando no Lago Paranoá, em Brasília. As investigações policiais indicam que ele se suicidou. Assessor de Yeda entre 2002 e 2006 e coordenador de sua campanha eleitoral, Marcelo conhecia o PSDB gaúcho na intimidade. Com seu desaparecimento, parecia ter se perdido uma das mais acuradas memórias da campanha e dos primeiros dias do governo Yeda.Era uma presunção falsa. Na mesma semana da morte de Marcelo, descobriu-se que os procuradores federais dispunham de gravações nas quais o ex-assessor relatava irregularidades na campanha e na gestão da tucana. VEJA teve acesso a parte desses áudios. A reportagem ouviu uma hora e meia das dez horas de diálogos mantidos entre Marcelo e o empresário Lair Ferst, um dos acusados de participar dos desvios no Detran gaúcho. Neles, fica claro que o ex-assessor conversava com liberdade com Ferst, que o ajudara a arrecadar dinheiro para a campanha tucana. Nos trechos analisados por VEJA, há três fatos que merecem ser investigados.• De acordo com Marcelo, Yeda recebeu dinheiro no caixa dois depois que a eleição terminou. Ele conta que, após o segundo turno, coletou 200 000 reais da Alliance One e outros 200 000 reais da CTA-Continental. São duas fabricantes de cigarros que, segundo Marcelo, fizeram as doações em espécie. O ex-assessor diz que entregou esse dinheiro a Carlos Crusius, marido da governadora. Procurados por VEJA, os executivos da Alliance One negaram ter abastecido qualquer caixa dois e mostraram um recibo que comprova a transferência bancária de 200 000 reais para o diretório estadual do PSDB. Já a CTA-Continental contesta ter feito qualquer doação à tucana. "Se me perguntar se me pediram dinheiro, direi que sim. Mas não levaram", diz Allan Kardec Bichinho, presidente da empresa.INCONFIDÊNCIAS GRAVADAS• Marcelo afirma que algumas despesas do comitê eleitoral de Yeda foram custeadas pela agência de publicidade DCS, que não prestava serviços à campanha nem fez doações oficiais. Segundo o ex-assessor, a DCS pagou, por exemplo, suas passagens aéreas e diárias no flat Swan Molinos, em Porto Alegre. Após a eleição, arcou com recepções oferecidas por Yeda em sua casa. Depois que ela tomou posse, a agência continuou quitando as passagens e diárias de Marcelo. Yeda renovou os contratos que o Banrisul mantinha com a DCS. A VEJA, a agência negou ter pago essas contas.• O ex-assessor diz que avisou Yeda sobre o esquema de corrupção no Detran gaúcho e conta ter entregado à governadora uma carta de oito páginas na qual o empresário Lair Ferst descrevia o modo como os recursos eram desviados da repartição. Ferst escreveu essa carta para tentar livrar-se da suspeita de envolvimento no esquema.A reportagem de VEJA teve acesso a esses áudios há quarenta dias. Só os divulga agora depois de ter encontrado uma fonte com credenciais suficientes para comprovar sua autenticidade. Ela é uma testemunha que também ouviu as gravações e assegura que Marcelo reconhecia como legítimo o seu conteúdo. Mais: o ex-assessor relatou-lhe os mesmos fatos. Essa testemunha, Magda Cunha Koenigkan, foi companheira de Marcelo. Dona de uma revista brasiliense, a Sras&Srs, ela relutou em revelar o que sabia. Temia perder o apoio financeiro para sua revista por parte de governos aliados de Yeda. Magda diz que decidiu correr esse risco em nome da memória do homem com quem viveu por quinze meses. Em cinco horas e meia de entrevista a VEJA, contou que Marcelo soube da existência dos áudios, gravados por Lair Ferst, em novembro de 2007. "Lair mostrou as gravações e disse que as entregaria às autoridades para provar que os responsáveis pelos desvios no Detran eram integrantes do governo Yeda, e não ele", lembra Magda. Ao ouvir isso, seu companheiro se desesperou: "Entrou em depressão e passou a beber".De acordo com ela, Marcelo parecia ter reencontrado o equilíbrio em janeiro deste ano, quando aceitou confirmar o conteúdo das gravações aos procuradores federais que apuram o episódio. Chegou a marcar uma data para seu depoimento, mas morreu duas semanas antes da audiência. As declarações de Magda, segundo ela ouvidas diretamente de Marcelo, são desastrosas para o governo tucano do Rio Grande do Sul. Elas mostram uso de caixa dois e desvio de recursos eleitorais para aumento de patrimônio pessoal. A presente reportagem revela que os áudios existem e que Magda Koenigkan diz ter ouvido do namorado o atestado de sua legitimidade. Mas os áudios não são provas processuais e, a VEJA, Yeda afirmou desconfiar de sua autenticidade. O PT já coletou catorze das dezenove assinaturas necessárias para constituir uma CPI na Assembleia Legislativa com o objetivo de investigar essas suspeitas. Só a CPI e as demais autoridades podem decidir se as gravações são evidência legal dos desvios ali narrados.A empresária Magda Koenigkan viveu quinze meses, a partir do fim de 2007, com Marcelo Cavalcante, coordenador de campanha de Yeda Crusius, encontrado morto em fevereiro passado. Ela relatou a VEJA as confidências que seu companheiro lhe fez sobre irregularidades que teriam sido cometidas em nome da governadora gaúcha.Como era a relação de Marcelo Cavalcante com Yeda Crusius?Era assim: na campanha ela ligava para ele a todo instante e pedia: "Marcelinho, precisamos arranjar 10 000 reais para isso e aquilo". E ele arranjava.Era ele, então, quem coletava doações?Se havia um dinheiro para receber, Marcelo pegava e entregava a Carlos Crusius (marido da governadora). No começo (da campanha), tinha de convencer as pessoas a colaborar. Quando Yeda começou a subir nas pesquisas, ficou mais fácil. Vinham 200 000 reais dali, 100 000 de lá. Só que esse dinheiro não entrava para o caixa.Ia para onde?Olha, entre o fim do segundo turno eleitoral e a semana posterior à eleição, Marcelo recebeu 400 000 reais de dois fabricantes de cigarro, 200 000 de cada um. Ambos pediram para que a verba não fosse entregue oficialmente. Então, foi para o caixa dois. Marcelo falava em caixa dois?Até do caixa dois do caixa dois. Marcelo deu os 400 000 reais a Carlos Crusius no comitê da campanha. Crusius agradeceu e foi para uma sala mais reservada, enquanto Marcelo conversava com fornecedores que esperavam para receber o dinheiro que lhes deviam. Aí, Crusius apareceu e disse: "Quero me desculpar. Não conseguimos o dinheiro. Vamos precisar de mais um prazo. Espero sua compreensão".Como Marcelo reagiu?Foi tirar satisfações com Crusius. Ele sempre me repetia essa história. Contava que disse a Crusius: "Como não tem dinheiro? Entreguei na sua mão". Marcelo acreditava que Crusius escondia tudo da governadora. Mas ela justificou a história. Chegou e disse: "Marcelinho, Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom". Marcelo se indagava sobre que dívida era aquela. Ele, que cuidava das finanças dela, não conhecia essa dívida.O que foi feito dos 400 000 reais?Passado algum tempo, Crusius finalizou a compra de uma casa. Pelo que o Marcelo contava, usou os 400 000 reais nisso.A casa da governadora?É. O Marcelo falava que o pai de um dos secretários da governadora simulou ter comprado um apartamento dela na praia. Teria sido uma venda forjada para mostrar que ela tinha renda para comprar a casa. Contou também que a casa custou cerca de 1 milhão de reais, talvez mais. Mas esses 400 000 foram entregues por baixo do pano (ao vendedor).Marcelo relatou-lhe outras irregularidades?Sim. Quem pagava as passagens aéreas e hospedagem para o Marcelo e a equipe da campanha de Yeda? O caixa dois. Marcelo se hospedava no hotel Swan Molinos (em Porto Alegre). Quem pagava era uma agência de publicidade, a DCS. Arcava também com os jantares que a governadora fez antes e depois da eleição.Houve irregularidades antes da campanha eleitoral?Marcelo contou que, quando ela era deputada, todo mês entravam cerca de 10 000 reais de um sindicato (Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Sicepot). O dinheiro ia diretamente para a governadora. Quem pegava era uma mulher contratada pelo Marcelo, Walna Vilarins (atual coordenadora de ações administrativas do governo gaúcho).Por que Marcelo participou do governo Yeda, mesmo sabendo desses fatos?Houve um momento em que ele mudou. Em novembro do ano passado, chegou ao conhecimento dele que havia áudios em que ele falava sobre as doações de campanha, como funcionava o pagamento da hospedagem da equipe e a compra da casa. Marcelo ficou muito angustiado e apreensivo. Quem gravou esses áudios?Outro integrante da campanha de Yeda, Lair Ferst. Ele ajudou Marcelo a arrecadar dinheiro. Entre 2006 e 2007, eles se encontraram diversas vezes. Em novembro, Lair contou a Marcelo que tinha gravado todos esses diálogos e que ia entregá-los à Justiça.Marcelo avisou o governo Yeda?Sim. Sugeriu que fizessem um acordo com Lair. Disse que havia muitos indícios do caixa dois e que Lair tinha ido com ele pegar dinheiro em empresas que não aparecem em lugar nenhum na receita declarada de campanha. A senhora ouviu as gravações?Ouvi. São conversas em barzinhos. Em janeiro, Marcelo foi procurado pela Justiça para confirmar se a voz nas gravações era dele e se tudo aquilo que ele dizia nelas era verdade. Estava com depoimento marcado entre a semana do Carnaval e a seguinte, mas morreu antes disso...Marcelo lhe disse que iria confirmar que a voz das gravações era dele?Sim. Por Stella Máris Valenzuela – Denise Ritter e com informações da Revista Veja.

Um comentário:

ducana disse...

Antes de ler o texto e aqui não vou comentá-lo, pus-me a analisar a foto da governadora: observando as unhas (antes tão bem tratadas e agora roidas até perto das cutículas), o queixo hirto, contrastando com o olhar "sem olhar", como que perdido. Diríamos, pensamentos distantes... Seria de esperar um longo suspiro, o erguer de cabeça, olhar para a janela e permitir que uma lágrima lhe molhe a face... Seria o coração da governadora tão duro, que diante dos últimos acontecimentos, não lhe motivasse a chamar seus companheiros e todos abraçados, fazer uma oração a São Benedito, buscar ensinamentos do senador dos senadores Pedro Simon, conselhos do senhor conselheiro Paulo Brossard, que é Pinto, um discurso de defesa do senhor da pantalha Lasier Martins, ou ela está maquinando um meio de tentar ludibriar a gauchada, que é o que essa paulistana pensou desde o início, mas não vai conseguir. Há quem tenha pena dela, que era tão soberba, soberana. Na foto: perdida, distante. Mas muito tensa.
Seus apoidores ilustres estão sumindo...