domingo, 18 de julho de 2010

A SINUCA DE BICO DE SERRA

Milton Ribeiro


A partir do momento em que o brasileiro conquistou a estabilidade econômica e a inflação de um dígito, ficou inviável para qualquer candidato fazer uma campanha puramente oposicionista ignorando tais conquistas. Obviamente que este fato, somado à popularidade do atual presidente, enfraquece os discursos contrários.

Deste modo, José Serra está numa sinuca de bico. Mesmo lutando para parecer oposição, mesmo discutindo com jornalistas, mesmo sendo identificado como opositor do governo Lula e do PT em qualquer rincão do planeta, seu discurso tem ares de continuidade. Ao afirmar que tudo de bom será mantido, acrescentando um "com melhorias", Serra corre o risco de não entusiasmar uma população que deseja a estabilidade e que tem como opção uma candidata que fez parte do governo.

Márcia Cavallari, diretora-executiva do IBOPE, afirma que o brasileiro médio deseja um candidato que consiga avançar, mas dentro da continuidade. Este eleitor, principalmente o mais humilde, teria se tornado conservador e não desejaria mudanças bruscas em sua vida. É como se o pobre soubesse dos perigos das marolas e quisesse permanecer no tranquilo lago da lenta melhoria do poder de compra, do acesso a serviços e das possibilidades de planejamento.

Resta, então, a Serra apostar no discurso anticorrupção – também dificultado pela forma como o primeiro mensalão foi absorvido pelo governo Lula – , no ataque à política externa e em sua renovada ideia, a da república sindicalista. Sobre este último argumento, Rafael Galvão, republicou um artigo datado de 23 de outubro de 2006 que cabe como uma luva na situação atual, demonstrando que há poucas novidades entre o céu e a terra que não sejam de inspiração udenista.

Algumas publicações aliadas à candidatura Serra passaram a dourar o continuísmo, lembrando que Lula manteve não somente a política econômica como convidou Henrique Meireilles, que era do PSDB, para o Banco Central. O sociólogo francês Alain Touraine, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, ex-professor do presidente Fernando Henrique Cardoso, afirma que a transição de poder de FHC para Lula foi feita com contribuições “generosas” por parte do primeiro e que ambos utilizaram a seu favor o conjunto de forças políticas do centro e da direita.

João Sicsú, diretor de Macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acusa a imprensa de apresentar "Serra e Marina não como candidatos da oposição, mas sim como candidatos dos seus respectivos partidos políticos". Segue dizendo achar curioso que esses mesmos veículos de comunicação, quando tratam, por exemplo, das eleições na Colômbia, se referem sistematicamente a candidatos de governo e oposição. Voltando no tempo, Sicsú descreve os governos do PSDB e do PT como dois projetos inteiramente diversos. Os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso são qualificados de "estagcionistas, que aprofundam vulnerabilidades sociais e econômicas". Os de Lula buscariam, "acima de tudo, o crescimento social do indivíduo, sendo, portanto, desenvolvimentista”.

Sicsú também cita um fato fundamental inteiramente divorciado da práxis do PSDB e da direita brasileira: pela primeira vez, há uma tentativa real de tornar o país independente no plano internacional, seja no âmbito político, seja no econômico. A crise internacional, por exemplo, chegou ao Brasil, mas não com o efeito de alterar políticas econômicas ou fazer balançar o Ministro da Fazenda. Da mesma forma, as relações internacionais durante o governo Lula também mudaram muito. Mesmo o polêmico acordo com o Irã foi uma prova de que há intenções de posturas mais independentes e maduras. Na outra ponta -- a da dependência à política norte-americana – coloca-se o ataque feito por Serra ao governo boliviano, acusado de propiciar o tráfico internacional de drogas. Portanto, as propostas de continuidade de Serra e seus aliados não consideram a política externa ou preferem ficar obedientes a Washington.

A missão de Serra é complexa. Precisa oscilar entre se apresentar como igual e diferente de Lula. Por um lado, a popularidade do presidente torna qualquer crítica arriscada; por outro, se não criticar o atual governo, vai assinar a eleição de Dilma Rousseff. Resta ao tucano mostrar os pontos positivos do atual governo que foram iniciados por FHC, suas qualidades como governador de São Paulo e encontrar a difícil dose exata para as críticas.



Com informações de O Globo, da Rede Brasil Atual e do blog de Rafael Galvão.

Um comentário:

ducana disse...

Sinuca de bico é pouco, coitado do Serra sente já lhe escorrer perna abaixo... Mas não podemos frouxar, temos de fazer uma campanha forte, eleger uma boa bancada para dar sustentação ao governo Dilma, ao governo Tarso. Deputados Federais e Estaduais, mais os senadores. Uma outra coisa, Dagberto, está muito bonito o teu blog e já que me cobraste postagens no meu blog, tenho postado todos os dias. O amigo tem entrado no blog desativado, o atual blog é: http://ducana.zip.net/ o site aí ao lado no teu blog está levando ao antigo blog. Troca a site e verás que tenho postado todos os dias. Um abração duCana.