quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

UMA TRAGÉDIA SILENCIOSA

Segundo o IBGE a nossa cidade perdeu 8% de sua população nos últimos oito anos. Em 2000, tínhamos 90.849 habitantes e em 2007, 83.478.
Certamente se ampliarmos essa linha temporal do censo supra e, considerando ainda que nos últimos 15 anos tenham vindo para a nossa cidade quase dois mil assentados, não será exagero afirmar que em 10 anos emigraram da nossa terra quase 15.000 conterrâneos. Esse é um padrão emigratório do nordeste na década de 50.
O mais assustador de tudo isso é a permanência dessa tendência, e com a apatia, o marasmo e a resignação que assola em nossa comunidade atrevo-me dizer que corremos o risco de que aumente essa “fuga” de inteligência e capacidade de trabalho da nossa Sant’ Ana do Livramento. Com isso, torna-se desnecessário sublinharmos que, hoje, predominantemente, estamos reduzidos a servidores públicos (municipais, estaduais e federais ) e aposentados.
A bem da verdade deve-se ressaltar que esse fato não se abateu apenas sobre nós e, muito disso deve-se precipuamente ao inexorável esgotamento de uma matriz produtiva anacrônica. Entretanto, em outras comunidades, de características bem semelhantes a nossa, vê-se uma busca diferenciada, posturas proativas, onde lideranças dos mais diversos segmentos da sociedade articulam-se, de forma qualificada, na construção de novos cenários e de um novo tempo. Por essas paragens, tem-se a impressão de que a coexistência “pacífica” e “confortável” entre um nível de exigência baixo aliado a um estado de letargia coletiva alimentam e realimentam, mais do que um desejo, uma necessidade imperativa de ir-se embora na busca da sobrevivência.
Muitos podem estar se perguntando: E daí ? O que tenho haver com isso, se forem 10, 15 ou 20 mil embora? Talvez, seja até compreensível essa reação, pois essa tragédia não passa em horário nobre dos principais tele-jornais. Essa tragédia, como agravante, é silenciosa, apesar do choro e lágrimas de muitos na despedida; também é surda-muda, pois em regra, atinge àqueles em estado de vulnerabilidade emocional, social e econômica e, infelizmente, a estes, raramente é lhes dado o direito a voz, somente a obrigação do voto...
Enquanto isso, assistimos, silenciosamente, a perda em progressão geométrica do poder de compra dos remanescentes, vemos o mercado imobiliário desvalorizar-se na razão direta dos ônibus que partem desta terra, mas ainda que fosse só isso! Isso são coisas. Mas o que não é tangível, nem mensurável, sob o ponto de vista econômico, é o infindável número de famílias forçosamente separadas e desestruturadas, ora pais que partem para não voltar, ora filhos que vão e vêm, como se buscassem um verdadeiro rumo, e mães que começam a acreditar que sua sina é a eterna saudade... Até quando?

Carlos Eduardo Grisolia da Rosa – Calico
Advogado / Economista

2 comentários:

Fernando Ferreira Amado disse...

Calico, tu é tão bom escrevendo quanto tu era nos atirando pedra na baixada do Liberato.
O "Lobão" até hoje tem as marcas nas canelas.

Teu texto diz tudo, bela pontaria.

Um abraço

jogos da memoria disse...

e dá-lhe pedrada ! Mas o texto diz muito mesmo. É preciso reverter essa situação, começar a planejar o futuro da cidade. Parabéns Dagberto pelo novo endereço. Está mto bom!